Roberto Dias Alvares‏

Travessia perigosa – MAN 6X4‏

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Aquela era uma manhã
enevoada e cinzenta.
Dirigindo meu caminhão MAN
vinte seis quatrocentos e quarenta.

A noite fora chuvosa,
saí do Rio Grande do Sul.
Levando carne, carga preciosa,
Dois reboques, carreta baú.

Cavalo mecânico traçado,
carretas protegidas por lacre.
O carregamento seria levado
ao longínquo Estado do Acre.

Passei por Santa Catarina
e a chuva caia persistente.
Ora forte, ora garoa fina,
O caminhão seguia em frente.

A cabine muito espaçosa,
tornava a viagem produtiva.
Mesmo naquela pista chuvosa
fazia uma condução precisa.

Cavalo e carreta, o conjunto
estavam colados no chão.
No PX pondo em dia o assunto,
conversando com colega de profissão.

Passando pelo Paraná,
a chuva continuava sem parar.
No destino, até chegar lá
tinha muito asfalto para rodar.

No PX e pela televisão,
das notícias, a derradeira.
O norte e toda a região,
sofria com enchente do Rio Madeira.

Estradas alagadas
impediam a passagem.
Mesmo não estando interditadas,
não era possível seguir viagem.

Eu seguia esperançoso
que a chuva diminuísse.
Teria de ser corajoso,
se passar eu conseguisse.

Para o Acre, principal ligação,
quatro pontos de alagamento.
Como passaria com caminhão?
Pensava nisso no momento.

Nas paradas para descansar,
conversava com outros caminhoneiros.
Diziam que lá não iria chegar,
Tudo alagado e cheio de atoleiros.

Durante a noite dormia bem
Cabine-leito cinco estrelas.
Conhecia belas mulheres também,
e marcava encontro para revê-las.

A mulher conseguiu emancipação,
também nesta terra brasileira.
Conheço várias que dirigem caminhão.
Tem no sangue a vocação estradeira.

Mantenho com elas contato,
pelas estradas nos encontramos.
Para a conquista talento nato.
Nas paradas, na cabine namoramos.

Apesar da dificuldade,
me divirto trabalhando.
Sou um homem sem vaidade,
pela vida sempre lutando.

Para o Acre a rodovia,
estava alagada de fato.
Mesmo assim, tentaria,
mas não parecia sensato.

Para atingir objetivo proposto
de chegar logo ao Estado Acreano,
completei o tanque no ultimo posto,
e aquela lâmina d’água fui encarando.

Não conseguia ver a pista.
Havia água por todo lado.
Eu já estava pessimista,
de ter a rodovia encarado.

Até onde alcançava a vista
água para todo lado.
Mostrei ser audacioso motorista,
segui firme no cavalo trucado.

Onde não tinha alagamento,
havia sempre atoleiro.
Para trabalhar, um tormento,
dificuldade pra este caminhoneiro.

Outros companheiros da estrada
com seus caminhões atolados.
Carretas só saiam rebocadas,
por tratores caminhões eram puxados.

Apertei apenas um botão.
e deixei o cavalo preparado.
No terceiro eixo a tração.
Acelerei firme o meu pesado.

Para todo lado voou lama.
patinava pneus dos eixos traseiros.
O meu MAN justificou a fama,
arrancando aplausos dos caminhoneiros.

O cavalo MAN mostrou potência,
arrastando os reboques frigoríficos.
Saí de lá com competência.
Meus objetivos eram específicos.

Tinha de chegar rapidamente
Pois o produto era perecível.
Chegar ao destino era urgente.
Não sabia se seria possível.

Saí daquele atoleiro
enfrentando pista alagada.
Era assim o tempo inteiro,
Não enxergava o piso da estrada.

A chuva havia parado
mas o rio Madeira não baixava.
jogando água pra todo lado
rumo ao Acre continuava.

O trecho era vencido
eu já estava animado.
Mas finalmente fui detido
Ponto não podia ser atravessado.

A água cobria a pista logo adiante.
Já ia a quatro metros de altura.
Parei em local isolado e distante
que não tinha nenhuma estrutura.

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Esperar a água baixar
era o único remédio.
O tempo demorava passar
Jogava truco pra espantar o tédio.

Improvisamos um banheiro
para conseguir tomar banho.
Passávamos o tempo inteiro,
em uma paciência sem tamanho.

Uma semana ali parado,
de água, um metro e meio.
O piso não fora danificado.
passar logo era meu anseio.

Combustível sendo consumido
para manter a refrigeração.
Finalmente, passar foi conseguido.
Cheguei do outro lado do ribeirão.

Iria chegar bem atrasado.
Naquelas circunstâncias, compreensível.
Rio Branco, capital daquele Estado,
cheguei já quase sem combustível.

Em grande supermercado
A carne seria descarregada.
Mas o local fora inundado,
Não podia ser desembarcada.

Mais dois dias ia esperar
até que o lugar estivesse pronto.
Armazenamento da carne iriam pagar,
e pelo atraso não haveria desconto.

Precisava abastecer o bruto.
A situação era terrível.
No posto, diesel nobre produto
não havia este combustível.

A noite no restaurante
bela garçonete me atendeu.
Mulher de meia idade, elegante.
Que eu a paquerava, percebeu.

Eu já não era nenhum menino.
Com mulher, era uma pessoa esperta.
Ser solteiro, achava, era meu destino,
Talvez não encontrara a pessoa certa.

Nos dedos não tinha aliança.
Ela sorria ao me ver olhar.
Isso deu-me esperança.
quem sabe não acabara de encontrar.

Quando terminei o jantar
Ela veio recolher meu prato.
Falei se com ela poderia conversar.
Um “Sim” respondeu-me no ato.

Quando ela terminou o expediente
eu a esperava do lado de fora.
Ela disse boa noite ao gerente,
E eu a levei embora.

O cavalo desengatado
serviu então de carruagem.
Eu tinha ali ao meu lado,
mulher que parecia uma miragem.

Conversamos sobre tudo
Ela era tão inteligente e bonita.
Tinha uma pele de veludo.
Prestava atenção em cada palavra dita.

Uma hora da madrugada
conversar com ela, tão bom.
No rádio, uma música era tocada.
Me encantava com ela e com aquele som.

Pediu-me para levá-la a sua residência.
Fiquei muito animado,
Não convidou-me a entrar, paciência.
Para o outro dia, encontro marcado.

No outro dia, a espera,
o combustível quase no fim.
A situação que boa não era
ficou mais complicada pra mim.

Dois dias não foram suficientes
para a limpeza do supermercado.
Balcões frigoríficos ineficientes.
Continuaria com a carne carregado.

O caminhão em funcionamento
para ativar a refrigeração.
Não tinha como fazer abastecimento.
Faltava diesel e reinava a confusão.

Aquela bela mulher, reencontrei.
Fomos passear após o jantar.
Falta de combustível com ela comentei.
Problema da cidade iria agravar.

O tanque já na reserva,
poderia perder todo carregamento.
Carne congelada e em conserva.
Era urgente fazer abastecimento.

Ela me disse àquela altura,
que seu pai, um homem incrível,
usava todo o óleo da fritura
e o transformava em biodiesel.

Pedi a ela se poderia
com seu pai conversar.
Respondeu-me que no outro dia
a ele iria me apresentar.

Aquela mulher bela
com olhar cheio de mistério
disse-me com voz singela
que queria compromisso sério.

Fiquei meio assustado
Com aquilo que ela me disse
Eu, um solteiro inveterado,
achava casamento uma tolice.

Mas tenho de confessar
Seu encanto me pegou
Queria ao lado dela ficar
Até parece que me enfeitiçou.

No dia seguinte bem cedo
Ao seu pai ela me levou.
Chamava-se senhor Alfredo.
Minha presença ali ela explicou.

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Todo óleo de cozinha usado
em biodiesel ele convertia.
Boa quantidade tinha armazenado.
Perguntei-lhe se me vendia.

Ele disse que para vender
dependeria da minha resposta.
Com a filha dele o que eu ia querer.
Se pedido de namoro era a proposta.

Fiquei bem embaraçado
e ela olhou-me envergonhada.
Disse que gostaria de ser seu namorado
e que ela me acompanhasse na estrada.

Disse-lhe que chegara o momento
de assumir um compromisso.
E pedia a ele o consentimento,
pois sofrera do amor um feitiço.

O pai dela acreditou em mim.
E deu sua permissão.
Vida de solteiro chegava ao fim.
Teria companhia no caminhão.

Comprei todo o estoque
de biodiesel que ele tinha.
Uma parte levaria no reboque.
Dois mil litros de óleo de cozinha.

Fiquei sem dinheiro completamente
Na carteira nenhum tostão.
Mas apesar disso, estava contente,
cheios os tanques do caminhão.

Os reboques descarregados
encontrar carga seria difícil.
Onde fretes podiam ser encontrados
escritório da transportadora em edifício.

A enchente trouxe prejuízo
o comércio paralisado.
Achar carga era preciso,
Só partiria carregado.

Congelada polpa de açaí.
Castanha do Brasil e borracha.
Com esta carga, de lá saí.
Dia seguinte pus-me em marcha.

Não viajava sozinho.
Bela acreana ia a meu lado.
Conversávamos pelo caminho.
Dirigindo meu MAN trucado.

Ia baixando o Rio Madeira
Devagar ia rodando.
mas quedas de barreiras,
faziam-me ir parando.

Ela me dando apoio.
Sentia forças pra prosseguir.
Ponte de madeira sobre arroio
passava o bruto com risco de cair.

Eram tantos buracos
que a viagem não rendia.
Não era lugar para fracos.
Ali, não se sobreviveria.

Já no Centro-oeste
por Mato Grosso passando
Rumando para o Sudeste,
com meu cruzador rodando.

Não fosse da cabine o conforto
seria maior o cansaço.
Faltava muito para chegar ao porto
mas confiava no meu cavalo de aço.

Após viagem cansativa,
a bordo de meu potente dino.
O carregamento da cooperativa,
entregava no destino.

Após um mês viajando,
retornaria para o Norte.
Ela o tempo todo apoiando,
Ao seu lado sentia-me forte.

Sempre que desejava,
Fazia para seu pai ligação.
Em mim ela confiava
Me entregara seu coração.

Acre, retornei àquele Estado.
Viajei com sol brilhante.
Ia muito bem acompanhado.
Levava um raro diamante.

A estrada muito melhor
do que a um mês atrás.
Cada quilômetro conhecia de cor
chegar com rapidez seria capaz.

Quando cheguei em Rio Branco
levei-a até o pai dela.
Pagamento do frete depositei no banco.
Saímos para jantar, eu e ela.

A bordo do meu pesado
Ia feliz como uma criança.
Lá sacramentei nosso noivado.
Pus em seu dedo uma aliança.

Saí para outra jornada
Ela ficou em sua cidade.
Deixei lá minha amada,
razão da minha felicidade.

No meu retorno seria marcado
a data do nosso casamento.
Meu MAN potente e trucado.
soberano na pista de rolamento.

Esta viagem foi pequena.
Retornei logo em seguida.
A travessia perigosa valeu a pena
pois conheci a mulher da minha vida.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

2 thoughts on “Travessia perigosa – MAN 6X4‏

  • robertosantista

    Helcio, obrigado pelo seu comentário. Outras obras serão publicadas em breve e seus comentários são importante para eu melhorar meus trabalhos.

  • demais!!!

Fechado para comentários.

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