Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

VIDA E FRACASSO DE UM CAMINHONEIRO – Caminhão Dodge D 950 6×2

Essa é a história de José dos Passos
que começou trabalhando de empregado.
Ao volante, usando a força dos braços,
comprou seu caminhão trucado.

Trabalhando com dedicação,
da sua responsabilidade não foge.
Tem o mais bonito caminhão.
É um potente estradeiro Dodge.

Casou e teve um belo casal.
A esposa, mulher digna e honrada.
Cuidados do lar foi a carreira profissional.
José dos Passos vivia feliz na estrada.

Transporta de tudo um pouco.
Café, feijão, milho e soja.
Na Bahia até carregamento de coco.
Por qualquer estrada se arroja.

Comprou bela casa para morar
e um caminhão bonito e novo.
O seu Dodge, resolveu aposentar.
Agora dirigia belo cavalo Volvo.

Na estrada ganhava bom dinheiro
mas não soube administrar a fartura.
Não cuidava de seu estradeiro
e o fazia encarar a vida dura.

José dos Passos começa a beber
e parar com o vicio não há quem faça.
Toda a família com isso a sofrer.
Chega a casa embriagado de cachaça.

Nas longas viagens pela estrada
Começou a se cansar da solidão.
Se envolveu com a mulherada.
Levava-as para dormir no caminhão.

Gastava muito dinheiro com isso
e a outra parte na bebida.
Sem manutenção o bruto dava enguiço.
Só queria saber de festa na sua vida.

Certa vez, durante uma viagem
passou a noite em casa de prostituição.
Bebeu tanto a ponto de fazer bobagem.
De manhã saiu dirigindo o caminhão.

A serra não era tão perigosa
mas a carreta perdeu o freio.
A vida às vezes é dolorosa.
Causou acidente bem feio.

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Foram muitos danos materiais
e algumas pessoas machucadas.
Irresponsabilidade, o pior trás.
Várias vidas foram arruinadas.

Após ser no hospital examinado
sentiu da irresponsabilidade o peso.
Constataram que dirigia embriagado.
Saiu do hospital e foi preso.

Para contratar um advogado
que o livrasse de ficar na prisão
Financeiramente ficou arruinado.
Teve de vender o caminhão.

Ficou diabético, hipertenso, teve depressão.
Não tinha animo para recomeçar.
Por dois anos não podia dirigir caminhão.
Outra atividade não sabia desempenhar.

A filha o levava ao posto de saúde
Na maioria das vezes com pressão alta.
Implorava ao medico: “Me ajude”.
De ir para estrada sentia falta.

A esposa trabalhava de diarista.
Cada dia na casa de uma patroa.
Jose dos Passos não podia ir para a pista.
A situação financeira não era nada boa.

O filho faz curso de capacitação.
Seria motorista profissional.
Passou no teste, podia dirigir caminhão.
Estudos acadêmicos chegaram ao final.

O velho Dodge a muito tempo parado.
Voltaria a trabalhar, de novo na ativa.
Do filho, José dos Passos ia ao lado.
A esperança de novo bem viva.

Encarando viagens bem longas,
frio congelante ou calor de derreter pixe.
Com os dois não haviam delongas.
No almoço e no jantar passavam a sanduíche.

Vida dura e difícil aquela.
Trabalhar muito, deles era a sina.
Às vezes comiam só pão com mortadela
e para ajudar a descer, uma tubaina.

Mal faziam para pagar as contas.
Esposa e a filha ajudavam no orçamento.
Mulheres de fibra, seguraram as pontas.
Não reclamavam daquela vida de sofrimento.

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Quando retornavam ao conforto do lar
voltaram a ir a missa no domingo.
No aperto, de Deus tornaram a se aproximar.
Divertiam-se vendo futebol ou jogando bingo.

Aos poucos a situação entrou nos eixos
e José dos Passos foi liberado para dirigir.
Por onde o Dodge passava, caiam queixos.
Caminhão mais ajeitado estava para existir.

O filho de José dos Passos era zeloso
e foi equipando o caminhão.
Para ele dirigir era muito prazeiroso.
Tinha por aquele bruto muita gratidão.

Mas o velho patriarca
queria ver os filhos de novo na escola.
Saiu dirigindo o Dodge, valorosa marca.
Estar no comando era show de bola.

Os filhos voltaram a estudar
o rapaz bastante contrariado.
A jovem, professora queria se formar.
O pai queria o filho advogado.

José dos Passos aprendeu a lição
e nada mais de bebida alcoólica.
Seu vício era dirigir o caminhão.
Não voltaria aquela vida melancólica.

Vinte anos depois desses acontecimentos
José dos Passos hoje está aposentado.
Cuidar dos netos o maior dos divertimentos.
A esposa está sempre a seu lado.

A família é o que realmente importa
e José dos Passos aprendeu de forma dura.
Quase acabou com tudo por ser vida torta.
Deus e a família foram sua salvação e cura.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

5 thoughts on “VIDA E FRACASSO DE UM CAMINHONEIRO – Caminhão Dodge D 950 6×2

  • Um grande caminhão para sua época.

    • Roberto Dias Alvares

      Wilson, concordo com voce. Os dojão passavam uma imagem de robustez impressionantes. Deixaram saudades

  • Valdecir Chagas

    minha carreira de motorista comecei com um desse trucado

    • Roberto Dias Alvares

      Senhor Valdecir, seu Dodge deveria ser um bonito caminhão. Grande abraço

  • robertosantista

    A vida na estrada reserva coisas boas mas as facilidades e as ilusões podem tirar um bom homem do seu caminho.

Fechado para comentários.

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