Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

AVENTURAS DE UM CARRETEIRO PELA AMÉRICA EM VERSOS DESCENDO OS CARACOLES

Sou carreteiro, me chamo Rafael.
Já rodei por toda minha terra natal.
Em meu estradeiro cumpro meu papel.
Agora rodo por países da América Meridional.

Em viagem por terras chilenas
levando carga de carne suína.
Dificuldades não foram pequenas,
Para chegar àquelas terras andinas.

Estrada dos Andes foi teatro
onde fiz viagem muito dura.
Mercedes Benz seis por quatro
vivi mais uma grande aventura.

Saí de Mendoza na Argentina.
Dirigindo-me para Santiago.
Lá deixaria a carne suína
e para isso seria bem pago.

Mas era neste difícil trajeto
que enfrentaria grande desafio.
O caminho não era nada reto
Ainda enfrentaria muito frio.

Os Caracoles são famosos
pela beleza da paisagem.
A estrada faz ziguezagues perigosos.
Tornando bem arriscada a viagem.

A estrada faz na cordilheira um rabisco
movimento continuo para baixo e para cima.
Mesmo dirigindo com cuidado, há risco.
Da engenharia, uma verdadeira obra prima.

O cavalo Mercedes Benz trucado,
tração ligada nos dois eixos traseiros.
Fazendo o percurso com todo cuidado.
Passando próximo aos desfiladeiros.

Em alguns trechos a estrada espremida
entre as montanhas e o caudaloso rio.
Rumo ao Chile encarando íngreme subida.
Pontes e desfiladeiros de causar arrepio.

Rota Sete é chamada na Argentina.
No Chile passa a ser Rota Sessenta.
Bela paisagem da América Latina.
Minha poderosa máquina subia lenta.

Antes de chegar à fronteira
abasteço na cidade de Uspallata.
Em alguns trechos motor pede primeira,
mas segue firme o Mercedes cara-chata.

Túnel Internacional Cristo Redentor
mais de três quilômetros de extensão.
Dos dois países é o marco divisor.
O Mercedes Benz justifica sua tradição.

Além do potente propulsor,
Conforto e ótimo campo de visão.
Vendo no painel o indicador,
o bruto andando em baixa rotação.

Montanhas de cores variadas
descida abrupta em ziguezague.
Para andar nessas perigosas estradas,
o motorista tem de mostrar que sabe.

Montanhas que tocam o céu,
caminhões acima e abaixo ainda vejo.
Verdadeiro movimento de um carrossel.
Chegar ao destino o que mais almejo.

Pista perigosa e sem proteção.
Um único erro pode ser fatal.
Conduzo com segurança o caminhão.
Dele tenho o controle total.

Naquela alta e fria montanha
a pista vai descendo em espiral.
À frente noto qualquer coisa estranha.
Ocorre acidente com risco de ser fatal.

Uma carreta que vai a frente
Um erro deixa-me assustado.
O motorista foi negligente.
O caminhão acabou tombado.

Subo na cabine do estradeiro.
É um verdadeiro corre-corre.
Ao tirar da cabine o caminhoneiro.
Percebo que estava de porre.

Nos ombros o levo carregado.
Coloco-o no pequeno acostamento.
Confirmo que está embriagado.
Estava desorientado e lento.

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Naquela região montanhosa
mais íngreme era a pista.
Certamente a parte mais perigosa
exigindo cuidados do motorista.

Os caminhoneiros nos dois sentidos,
Tiveram que parar ali também.
Os dois lados ficaram impedidos,
impedindo de veículos o vai-e-vem.

O motorista tinha só um arranhão.
Com ele não acontecera nada.
Precisava destombar o caminhão,
para conseguir liberar a estrada.

Enquanto discutiam os motoristas,
sobre o que deveriam fazer,
desatrelei e virei meu bruto na pista,
Pois tinha pressa neste caso resolver.

Com cabo de aço amarrado
tentei a carreta destombar.
Por meu possante cavalo é puxado.
Semirreboque começou a se movimentar.

O Mercedes Benz patinava no asfalto.
Dos pneus saindo esbranquiçada fumaça.
Diante daquelas montanhas de basalto
foi se elevando aquela imensa massa.

Semirreboque volta a sua posição,
mas aí ocorreu o inusitado.
Pôs-se em movimento a composição.
Sem freios e estava desengatado.

O cavalo mecânico não tinha motorista
e andava feito alazão sem rédea.
Não havia proteção lateral na pista.
Despencaria e causaria uma tragédia.

Sai correndo atrás da carreta errante
sob os olhares atônitos dos motoristas.
Consegui alcançá-la no último instante.
Sem saber se a impediria de sair da pista.

Abri a porta e saltei dentro da cabina.
Puxei a alavanca do freio estacionário.
O corpo excitado de adrenalina.
O que fiz realmente foi extraordinário.

A carreta parou a centímetros do abismo.
Lá embaixo a pista com carros e caminhões.
Seria gigantesco acidente automobilístico.
Para todos e para mim, fortes emoções.

Minha carreta tinha um cambão.
Se preciso era só outro reboque atrelar.
Formaria diferente configuração.
O motorista bêbado não podia guiar.

Não estava ferido
mas desnorteado pela embriaguez
Outro acidente poderia ter ocorrido
e para volante voltasse outra vez.

Tendo confiança no Mercedes Benz.
O reboque vou levar à próxima cidade.
Até Los Andes como um bitrem
consigo puxar sem dificuldade.

O condutor de caminhão que desce vazio
se oferece para levar o cavalo no lombo.
Cambaleante, o motorista levantou mas caiu.
Embriagado, levou mais um tombo.

Nos cabos e conexões de ar
faço minuciosa verificação.
Ponho-me no bruto a rodar.
Los Andes, ia na direção.

A descida feita com cuidado
afinal dois semirreboques atrás.
Com meu Mercedes Benz trucado.
Puxá-los com sobra mostra ser capaz.

Na altitude, os ouvidos sofrem pressão,
que diminui conforme vou descendo.
Na cabine alta, deliciosa sensação,
Curva após curva vou vencendo.

Los Andes é uma grande cidade,
encravada em meio à cordilheira.
Lá cheguei com certa dificuldade.
Passando dos abismos á beira.

O motorista acidentado
foi na cabine do outro caminhão.
Da bebedeira, tinha melhorado,
mas de dirigir não tinha condição.

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Sigo depois para Santiago
levando meu bruto no braço.
Passo ao lado de imenso lago
neste sinuoso trajeto que faço.

Descarrego na Capital Chilena.
Para voltar levo carga de pescado.
Temperatura até o momento era amena,
cai, me deixando preocupado.

Para aumentar minha preocupação,
neva enquanto sigo pela estrada.
Acelero mais forte o caminhão.
Subo por aquela rodovia escarpada.

Se a rodovia for fechada
atraso na entrega da mercadoria.
Divisa do Chile tem de ser cruzada.
Atravessar o túnel eu tentaria.

Meu cavalo mecânico tranquilamente faz
aquilo que se espera de um caminhão.
Ultrapasso e deixo outros para trás.
Acoplada do bruto a dupla tração.

Para dar mais segurança
nos pneus uso a corrente.
Faço uma pilotagem mansa.
Peso nas costas o bruto não sente.

Já próximo da divisa
camada branca sobre a pista.
Vejo placa que me avisa
que o túnel logo estará à vista.

Olho de lado a ribanceira
vendo a pista que passei.
Chego na estação aduaneira.
A pedido de policial, parei.

Fez toda a checagem
eu estava liberado.
Pude seguir viagem
no meu cavalo trucado.

Pelo túnel fiz a entrada.
logo sairia do lado argentino.
Na próxima cidade faria parada,
e depois seguiria para o destino.

Do túnel fazendo a travessia
uma profunda escuridão.
Ali dentro a pista eu via,
graças aos bons faróis do caminhão.

Já saindo do outro lado
escuto barulho estrondoso.
O gelo nas encostas acumulado
descia com violência e ruidoso.

Ocorria uma grande avalanche
que do túnel poderia fazer o bloqueio.
De sair teria não sabia se havia chance.
Fecharia entrada e saída e eu no meio.

De sair tinha acabado,
a neve desabou fechando a saída.
Felizmente eu tinha passado
mesmo pondo em risco minha vida.

Em Uspallata parei para descanso.
Seguiria viagem no outro dia.
Parada de caminhões cessou meu avanço.
Banho, jantar e bom sono dormiria.

Dentro da cabina estava aquecido.
Acordei e me sentei no banco.
Durante a noite o conjunto foi envolvido
por um imenso cobertor branco.

Dos vidros tirei o excesso de gelo.
Dei partida e arranquei em meio à neve.
Com o Mercedes Benz tenho todo zelo.
Ao destino, chegaria em breve.

Da Argentina para o Brasil.
Entreguei o pescado no Rio de Janeiro.
Caracoles, rodovia que dá calafrio.
Transpus graças à meu bom estradeiro.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

2 thoughts on “AVENTURAS DE UM CARRETEIRO PELA AMÉRICA EM VERSOS DESCENDO OS CARACOLES

  • Que relatos amigo , dá um livro sem obra de dúvida tem meu respeito abraço

    • Roberto Dias Álvares

      Obrigado Joel. Na verdade essas duas últimas histórias que postei são de um livro que escrevi e que já foi publicado só que em prosa. Para a coluna aqui do blog e para quem não tem tempo de ler um livro mais extenso, transformei as aventuras deste livro na linguagem poética de rimas. Se tiver interesse em conhecer o livro ele se chama AVENTURAS DE UM CARRETEIRO PELA AMÉRICA.

Fechado para comentários.

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