Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

CARRETEIRO SOLITÁRIO

Um potente par de faróis
vai rasgando a escuridão da estrada.
Parecendo brilho de dois sóis
iluminando negro véu da madrugada.

Um cavalo mecânico trucado
com um motor esbanjando potência
puxa um semirreboque carregado
dirigido com muita competência.

Ele é um carreteiro solitário
que prefere viajar na solidão da noite.
A bordo de um bruto extraordinário.
Cavalga seu cavalo, chega nele o açoite.

No vai-e-vem, caminhões aparecem e somem.
Mas a maioria anda com o sol a pino.
O carreteiro que anda a noite é um homem
mas no fundo tem a alma de um menino.

Todo aquele ar de mistério
faz as mulheres sentirem louca atração.
Aparência de galã com jeito sério.
Todas se encantam e sentem paixão.

Tão negro quanto a escuridão
é também a cor de seu estradeiro.
Uma música no rádio quebra a solidão.
Rasgando esse chão brasileiro.

Ninguém sabe de onde ele vêm.
Também não sabem para onde vai.
Nunca o viram com alguém.
Só sabem que no início da noite sai.

O ronco potente do motor ecoa
quebrando o silêncio da escuridão.
Pela pista sua carreta parece que voa
deixando para trás um troar de trovão.

Por ser assim tão misterioso,
em alguns homens causa medo.
Veem-no como um ser tenebroso.
Para dormir estaciona logo cedo.

Os transportadores tinham uma certeza:
A carga chegaria dentro do horário.
Por isso contratavam-no para a empresa
o competente carreteiro solitário.

Isso começou a despertar inveja
em homens que viviam do esforço alheio.
O carreteiro levaria carga de cerveja.
Roubá-lo, deles era o grande anseio.

Quando saiu da fábrica de cerveja
a lua lançava clarão prateado.
Aqueles homens maus, ora veja,
uma cilada para ele tinham preparado.

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Alguns quilômetros na perimetral
que dava acesso à rodovia.
Uma ação voltada ao mau
contra aquele carreteiro aconteceria.

Viajando, tendo a lua como guia
acelerando o cavalo mecânico.
Durante toda a noite dirigiria
levando aquele conjunto titânico.

Um carro com homens armados
seguiam-no a curta distância.
também dois cavalos emparelhados
Andavam próximo com constância.

Os bandidos prepararam o bote
tentando fazê-lo parar na marra.
Um cavalo deu na carreta um toque,
mas o carreteiro tinha habilidade e garra.

Conseguiu endireitar a carreta
e manteve a calma e sangue frio.
Percebeu a malandragem e a treta
saiu à direita e pegou um desvio.

Mesmo com trinta toneladas
A carreta já à cento e quarenta.
O rapaz conhecia aquelas estradas.
Com ele a tocada não era lenta.

Aquela estrada, um deserto
favorecendo a criminalidade.
Nenhum posto policial por perto.
Lutaria contra esta dificuldade.

Mas o carreteiro solitário
tinha a noite como aliada.
Nada atrapalharia seu itinerário.
Ninguém o tiraria da estrada.

Ao término daquela noite duradoura
o carreteiro solitário cumpria a missão.
Adentrava grande distribuidora.
Passava a guarita e o portão.

Mas o que aconteceu afinal?
Como ele se safou dessa?
Aniquilara o grupo marginal.
Seguiu tranquilo, sem pressa.

Conto ao caro leitor e leitora
como ele conseguiu escapar.
Chegar a salvo na distribuidora
e de lá outro frete poder levar.

Aquela noite escura
praticamente sem movimento.
Ocorreria uma batalha dura
Bandidos venciam no momento.

Naquela louca perseguição
o carro tomou a dianteira.
O que não faltava era emoção.
Veículos em desabalada carreira.

O carro parou logo à frente
e bandidos saíram de armas na mão.
Mandavam que parasse urgente.
O carreteiro aumentou a aceleração.

Tiros disparados em sua direção
atingiram o para-brisa do seu lado.
Mas do vidro não houve perfuração
pois aquele vidro era blindado.

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E não era só o vidro que era blindado.
A cabine feita de fortes chapas de aço.
Por mais que fosse de balas alvejado
conseguia seguir sem embaraço.

Mas existia outro segredo
escondido atrás do para-choque.
Bandidos com expressão de medo.
O carreteiro em um botão deu toque.

No para-choque pequeno orifício.
Havia arma de grosso calibre acoplada.
Tantos tiros parecia fogos de artifício.
A quadrilha foi totalmente dizimada.

Mas dois cavalos potentes
estavam em sua perseguição.
Em maior número ficaram valentes.
Queriam dar fim naquela situação.

Era cheio de truques seu cavalo moderno.
No semirreboque um tanque de óleo havia.
Um botão apertou e foi um inferno.
O óleo vazou e a pista ficou escorregadia.

Os dois cavalos que o perseguiam
ficaram com os pneus lambuzados.
Logo aqueles dois sentiriam
que não deviam tê-lo provocado.

O carreteiro solitário dá freada brusca
e os caminhões que veem atrás.
Um dos motoristas se assusta.
Não consegue segurar o bruto mais.

Capotou espetacularmente
e o outro que vinha no embalo
bateu contra ele violentamente.
Acidente não teve como evitá-lo.

Um dos cavalos pegou fogo
incendiando o outro também.
O carreteiro solitário saiu desse jogo
sem ser atingido por ninguém.

Daquele grupo criminoso
sobrou só um sobrevivente.
Estado de choque, olhar medroso.
Não havia lembranças em sua mente.

Do que aconteceu ninguém soube.
e o único que de tudo sabia
ao carreteiro solitário essa façanha coube,
a ninguém jamais dela contaria.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

3 thoughts on “CARRETEIRO SOLITÁRIO

  • Belo texto!!!! Parabéns

    • Roberto Dias Alvares

      obrigado Léo. grande abraço

  • Roberto Dias Álvares

    Um caminhoneiro misterioso que só viaja a noite, tem recursos que o livram dos criminosos.

Fechado para comentários.

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