Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

HISTÓRIA DA ESTRADA – A POLICIAL RODOVIÁRIA E O CARRETEIRO

Quando ocorreu esse inusitado fato.
Era já o final da década de oitenta.
Conduzindo belo estradeiro o Renato.
Dirige o GMC em tocada tranquila e lenta.

Levava carga de nobre bebida, whisky.
Carregamento de grande valor comercial.
Com uma carga assim, há quem se arrisque.
Praticando o roubo seguindo caminho do mau.

Renato não tinha menor ideia.
Que para rouba-lo preparavam cilada.
Em uma subida bandidos saltaram na boleia.
Era uma quadrilha muito bem armada.

Em casa a esposa Teresa e a filha Anita.
Pelo retorno do marido e pai, em oração.
Família de fé que em Deus acredita.
Entregam ao Criador o marido e o caminhão.

Obrigaram-no a ir para o matagal.
Lá roubaram toda a carga de bebida.
Mas eram pessoas guiadas pelo mau.
Queriam acabar também com sua vida.

De costas fizeram-no ajoelhar
E Renato em silêncio esperou a morte.
Golpe com a arma acabaram por lhe dar.
Sangue jorrou por imenso corte.

Bandidos fugiram levando a carreta e carga.
O carreteiro desmaiado, e o sangue corria.
Para mãe e filha demora sofrida e amarga.
Esperando o marido e pai que nunca mais voltaria.

Renato foi encontrado por um agricultor
Que o achou caído parecendo estar morto.
Chamou a polícia que trouxe um doutor.
Este se aproximou e examinou o corpo.

O médico com todo o cuidado
Constatou que o homem estava vivo.
Traumatismo craniano diagnosticado.
A morte ainda não o tornara cativo.

Levado ao hospital da cidade.
Cheiro de álcool, estéril aroma.
Colocado na UTI devido à gravidade.
Lá ficou meses em estado de coma.

A família não descobriu seu paradeiro.
Era uma época de difícil comunicação.
Também foi roubado seu estradeiro.
Mãe e filha sofriam angústia e aflição.

Quando Renato do coma acordou enfim.
Não lembrava quem era ou de sua história.
Estabeleceu-se naquela cidade por fim.
Sem documentos, perdera a memória.

Não lembrava que tinha família.
E que um dia dirigira caminhão.
Não sabia que fora atacado por quadrilha.
Em sua cabeça uma grande confusão.

Sem documentos e sem saber quem era.
Perambulava pela rua como um mendigo.
Em casa, esposa e filha ainda na espera.
Nas calçadas dormia e lhe servia de abrigo.

Renato andava sem rumo pela cidade
Quando viu motorista tentando manobrar.
Pôr a carreta em local estreito, dificuldade.
Por instinto se prontificou a ajudar.

Vendo aquele homem maltrapilho
O motorista começou a dar risada.
Carreta levava carga de milho.
Naquele local seria descarregada.

O motorista da carreta quis humilhar Renato.
Falou que se fosse capaz, fizesse melhor.
O homem se ajeitou no banco, engatou ré no ato.
Entrou de primeira só olhando no retrovisor.

Depois com toda a naturalidade.
Renato desceu e já ia embora.
Dono da empresa o viu e na sua simplicidade.
Pediu que o acompanhasse na mesma hora.

Perguntou a Renato se já fora motorista.
Mas ele ainda não se lembrava de nada.
Se quisesse, poderia começar como manobrista.
Para entrar ali, carreteiros só faziam trapalhada.

Como estava perdido o Renato.
Disse que aceitava trabalhar.
Mas havia um problema de fato.
Não ter documentos ia atrapalhar.

O dono daquela grande empresa.
Levou Renato aos órgãos competentes.
Documentos refeitos com vagareza.
Ao final, faltou a habilitação somente.

Renato manobrava com naturalidade.
E dirigia qualquer tipo de caminhão.
Por corredor estreito entrava com facilidade.
Ao volante mostrava sua satisfação.

Através de impressão digital
Descobriram seu nome completo.
Quem sabe, descobriria quem era afinal.
Renato de esperança estava repleto.

Renato refez teste de motorista.
Passou em todos com louvor.
Não seria mais somente manobrista.
Dirigir carreta do patrão foi merecedor.

Enquanto isso a jovem Anita.
Se mostrava uma aluna notável.
Crescia e ficava cada dia mais bonita.
Inteligente e de beleza admirável.

Para concurso público fez exame.
Para atuar em território masculino.
Demonstrou sua capacidade não deu vexame.
Nessa profissão selou seu destino.

RECOMENDADO  Caminhoneiro filma fantasma em rodovia dos Estados Unidos

Para Policial Rodoviária Federal.
Anita prestou e passou no concurso.
Melhoraria a vida tão escassa de capital.
Ela e sua mãe viviam com pouco recurso.

Nas aulas de tiro desempenho fantástico.
Causando nos homens inveja e despeito.
Colocaram-na no serviço burocrático.
Anita tinha por todos muito respeito.

Fazia quase dez anos do sumiço.
Não sabia se o pai estaria vivo ou morto.
Descobrir seu paradeiro, pensava nisso.
A casa de sua mãe era seu seguro porto.

Anita estava na flor da idade.
Física e mentalmente no apogeu.
Cuidava do corpo, mas sem vaidade.
Queria encontrar um amor só seu.

Foi trabalhar na rodovia.
Fiscalizando e perseguindo marginais.
Para ela era tudo que queria.
Mas ainda faltava algo mais.

Um policial veio transferido.
Rapaz jovem, bonito e solteiro.
Passar em concurso havia conseguido.
Estudara para isso um ano inteiro.

Ao ver sua colega de profissão
Não disse, mas a achou muito bonita.
Entre eles houve rápida atração.
Assim se conheceram Lourenço e Anita.

O pai ele nunca conheceu.
E isso nele sempre foi motivo de tristeza.
Antes que nascesse, morreu.
Que fora grande homem tinha certeza.

Ao ouvir a história de Anita
Lourenço ficou comovido.
Ao pensar em seu pai, ficava aflita.
Será que fora morto por algum bandido?

Quando estavam fora do expediente.
O rapaz a convidava para sair e passear.
Lourenço se mostrava homem decente.
Certo dia pediu se o aceitava para namorar.

A jovem esperava já esse pedido.
Ela aceitou Lourenço prontamente.
Se amavam e se via neles esposa e marido.
Isso era uma questão de tempo somente.

Enquanto isso Renato em local distante.
Viajava com a carreta mais bela da frota.
Não se lembrava, mas já fora viajante.
Cumpria com esmero o prazo e a rota.

Seu patrão que também era um amigo
Sentiu que com ele fizera a coisa certa.
Ao volante, não havia nenhum perigo.
Renato era um motorista sempre alerta.

Há dois anos trabalhando no trecho.
Renato provou ser exímio motorista.
Ao volante do Scania com terceiro eixo.
Seguia ordens e o trajeto à risca.

Trabalhava domingo e feriado.
E não reclamava da distância.
Em sonhos começava a lembrar do passado.
Isso passou a ocorrer com constância.

As noites passadas na boleia.
Renato acordava banhado em suor.
O que acontecera não tinha ideia.
Não saber era para ele o pior.

Lourenço e Anita quando estavam juntos.
Conversavam sobre família e o passado.
Os pais e o casamento, principais assuntos.
Ela sonhava que o pai havia sido encontrado.

Renato certa vez recebeu uma missão.
Carga valiosa e carreta nova sob sua batuta.
Tinha de entregar peças de avião.
Não importava se levasse alguma multa.

O Scania voava pelo piso asfáltico.
E Renato sabia onde a polícia ficava.
Rodava em desempenho fantástico.
Seu patrão plenamente nele confiava.

Mas um caminhão muito lento.
Atrasando o avanço da viagem.
Faixa amarela contínua no pavimento.
Renato arriscou a ultrapassagem.

Havia um policial escondido.
Passou um rádio à guarita mais à frente.
O prazo de entrega não seria cumprido.
Isso não deixava Renato contente.

Logo à frente parado na guarita.
Abordado pelo policial Lourenço.
Estava de folga a policial Anita.
O homem da lei agia com bom senso.

Renato na guarita foi parado.
O policial Lourenço pediu habilitação.
Nos computadores, tudo checado.
Estava em dia a documentação.

Mas Renato não escapou da multa.
Não questionou e sabia que estava errado.
Seu Scania parecia lançado por catapulta.
Na faixa contínua não devia ter ultrapassado.

Renato havia sido liberado.
E pela rodovia seguia sua viagem.
De repente pela viatura foi alcançado.
O policial lhe trazia uma mensagem.

Enquanto a carreta se afastava.
Lourenço ficou intrigado com aquele nome.
Recordou quando Anita lhe falava.
Rapidamente pegou o telefone.

RECOMENDADO  Caminhão com restrição judicial e placas trocadas é apreendido pela PRF

Ligou para ela e quis saber mais.
Se tinha alguma foto do pai para mostrar.
Pelo celular enviou para o rapaz.
Lourenço ao ver, não podia acreditar.

Pediu que Anita viesse até a guarita.
Descobrira algo muito importante.
A arte as vezes, à vida imita.
Atendeu ao chamado no mesmo instante.

Em vinte minutos chegou ao local.
Enquanto isso, de Lourenço saia atrás.
Corria com a viatura policial.
Parou o carreteiro Renato aquele rapaz.

Renato sem saber o motivo.
Por estar sendo de novo abordado.
Anita pressentiu que seu pai estava vivo.
Será que finalmente fora encontrado?

Contou ao carreteiro o Lourenço.
Que sua namorada podia ser filha dele.
De não retornar, Renato estava propenso.
Mas o policial insistiu que voltasse com ele.

Renato obedeceu ao policial.
E na carreta deu meia volta.
Estava próxima guarita da polícia Federal.
Lourenço, com a viatura fazia a escolta.

Ao chegar ao pátio de estacionamento.
Anita estava lá, já à espera.
Renato viu a jovem naquele momento.
Mas não desconfiou quem era.

Ao descer do Scania, devagar.
Os olhares dos dois se cruzaram.
Anita ao seu encontro se pôs a andar.
Frente a frente ambos ficaram.

Uma lágrima furtiva do rosto dela cai.
E a jovem policial vê nele o embaraço.
Já chorando diz é você meu pai.
Em Renato dá um forte abraço.

O carreteiro abraça constrangido.
E a ela pede perdão por não se lembrar.
Contou que a muito o acharam caído.
Provavelmente alguém o tentou matar.

Anita disse ter certeza de quem ele era.
E assim pai e filha se reencontraram enfim.
Após mais de dez anos de espera.
Estavam juntos por fim.

Renato estava preocupado.
Com a carga que tinha hora para chegar.
Lourenço de Anita chegou de lado.
“Vá com seu pai essa carga entregar”.

Renato aceitou a jovem na boleia.
E assim ela contou o que ele não lembrava.
Que tinha esposa e filha ele não fazia ideia.
Renato bem veloz se adiantava.

Queria chegar ainda no prazo.
E a filha o ajudou nesta missão.
Quando parado, eis o caso.
A policial Anita fazia a liberação.

Mostrava sua carteira de Policial.
E Renato era liberado a prosseguir.
Chegou a tempo no destino final.
Ver sua mãe, Anita pediu para ele ir.

Renato ligou para seu patrão.
Que o liberou para encontrar a família.
Ao chegar à sua cidade, uma comoção.
Entrou de braço dado com a filha.

A esposa ao vê-lo chegar.
Desmaiou de tamanha emoção.
Ao marido conseguira reencontrar.
Sentiu bater descompassado o coração.

Mesmo ainda sem memória.
E não conseguindo lembrar das duas.
Elas ajudaram a reconstruir sua história.
Situações de família que eram só suas.

Renato continuou trabalhando para o patrão.
Que para ele fora também um amigo.
O endereço onde estacionava o caminhão.
Era sua casa, da esposa amada o abrigo.

Ela nunca perdeu a esperança.
Que um dia reencontraria seu esposo.
Em Deus demonstrava confiança.
Agora o tinha a seu lado ainda mais amoroso.

Para Renato ela era uma namorada.
Estavam se conhecendo novamente.
Com que ansiedade ela aguardava sua chegada.
Na estrada ele pensava nela constantemente.

Alguns meses depois desse fato.
O carreteiro viveu outra grande emoção.
Levava sua filha ao altar o Renato.
Casamento dela com Lourenço a celebração.

Anita e Lourenço trabalhavam no mesmo lugar.
Faziam aquilo que gostavam para viver.
Renato passou a levar a esposa para viajar.
Coisa melhor entre eles iria acontecer.

Em breve chegaram os netos.
Enchendo a casa de alegria imensa.
Renato e Lourenço homens corretos.
Por agirem assim receberam a recompensa.

Autor: Roberto Dias Alvares

Rafael Brusque - Blog do Caminhoneiro

Nascido e criado na margem de uma importante rodovia paranaense, apaixonado por caminhões e por tudo movido a diesel.

One thought on “HISTÓRIA DA ESTRADA – A POLICIAL RODOVIÁRIA E O CARRETEIRO

  • Roberto Dias Alvares

    Uma emocionante história da estrada que marca o reencontro de um carreteiro que perdeu a memória com sua família

    Resposta

Deixe um comentário!

Descubra mais sobre Blog do Caminhoneiro

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading