CONTO DE NATAL NA ESTRADA – Cavalo Mecânico FIAT 210 6×2
José Vidal, bom carreteiro
á família não era muito apegado.
Viajava por este chão brasileiro
levando carga para todo lado.
Não era humilde, mas bom coração.
Trabalhador digno e honesto.
Dirigindo com alegria seu caminhão.
Ás vezes, disposto a nobre gesto.
O ano já chegando ao final
e José Vidal trabalhando demais.
Com a família não passaria noite de natal.
Achava que dinheiro importava mais.
Na boleia do seu cavalo mecânico
Fiat duzentos e dez trucado.
Caminhão imponente, titânico.
Pelo seu dono, bem cuidado.
Seus cromados reluzentes
brilhavam durante o dia.
Pequenas lâmpadas fluorescentes
durante a noite ele acendia.
A noite chamava a atenção
deixando-o orgulhoso.
Uma brilhante iluminação.
Andava pela rodovia pomposo.
Após viagem cansativa,
de casa estava distante.
Entregou carga na cooperativa.
Queria pegar outra o quanto antes.
Em tempo com certeza entregaria.
Parou no posto para almoçar.
Á noite, não tinha certeza se chegaria.
Natal em casa não pensava em passar.
Pensava em ganhar dinheiro
E achava Natal uma frescura.
Preferia viajar o tempo inteiro.
Dinheiro, mais importante aquela altura.
Eis que um homem o abordou
pedindo carona até sua cidade.
José Vidal desconfiado ficou.
Situação de grande dificuldade.
José Vidal ficou em um impasse.
O homem parecia de convento saído.
Vistosa barba cobria sua face.
Ia até os ombros o cabelo comprido.
Não saberia a que congregação
aquele homem pertenceria.
Túnica que ia até perto do chão.
Nos pés, par de sandálias se via.
O homem parecia bom e sincero
passando autoridade na fala.
Falava de um jeito austero.
Não levava bagagem nem mala.
José Vidal falou que o levaria
e assim partiram para o trecho.
Puxava uma carreta vazia.
Havia levantado o terceiro eixo.
Conseguiu frete para levar
e ganharia bom dinheiro.
Ninguém á carga quis aceitar.
Para outros a família vinha primeiro.
Escutando aquele homem misterioso
lembrou que a anos sua mãezinha não via.
José Vidal já não estava mais temeroso.
Sentia-se bem quando ao homem ouvia.
O Homem falava das coisas de Deus
e que a família era o mais importante.
José Vidal não era como os ateus,
acreditava, mas na igreja não era atuante.
O carreteiro começou a pensar
tudo o que fizera em sua vida.
Enquanto escutava aquele homem falar
Viu que muita coisa boa fora perdida
Aquele homem fez José ver
que sua família era sacrificada.
Só trabalhar não iria resolver.
A família tinha de ser valorizada.
De que adiantaria trabalhar tanto
e deixar o mais importante para trás.
Se morresse ficaria o pranto
e o que fez não importaria mais.
Envolvido naquela conversa
levando sua carga ao destino.
José Vidal tinha sua mente imersa
na preocupação e no desatino.
De tanto ouvir aquelas palavras
o carreteiro sentiu-se arrependido.
Estava chegando em Lavras.
Noite de natal em família tinha perdido.
Tentando arrumar desculpa,
mais para si do que para o interlocutor,
queria minimizar sua culpa.
Pela família tinha muito amor.
Mas que amor era aquele
que se sentia feliz longe do aconchego.
A família precisava muito dele.
Isso tirou-lhe todo o sossego.
Ao homem, José agradeceu
por ter aberto sua mente.
Tanto tempo ele perdeu.
Queria rever a família somente.
Disse que viajaria a noite inteira
mas o dia de Natal lá estaria.
Rodaria com sua máquina estradeira
e quem sabe a tempo chegaria.
Em uma parada de estrada
o homem pediu para ficar.
Agradeceu pela carona dada
e disse que por José iria orar.
O carreteiro chegaria ao lar
sem presentes para os filhos amados.
O homem, sincero abraço quis lhe dar.
José sentiu seu corpo ficar gelado.
Como se despertasse de um sonho
estava dirigindo seu caminhão.
Levou um susto sem tamanho
ao ver imenso brilho na escuridão.
Onde estava aquele homem misterioso?
Não se lembrava de ter assumido o volante.
E o que era ainda mais espantoso,
aquele brilho era sua cidade logo adiante.
Como poderia ter rodado
tantos quilômetros e não se lembrar?
Andava bem seu cavalo trucado.
No semi reboque nenhuma carga a levar.
Parou o bruto a beira da estrada
para por pensamentos em ordem.
Vestígio daquele homem, não havia nada.
Sua cabeça em verdadeira desordem.
Ao despedir-se daquele homem bondoso
estava a setecentos quilômetros de casa.
Quando recebeu dele um abraço afetuoso,
corpo ficou gelado e o coração em brasa.
Acelerou seu Fiat pela estrada.
Chegaria para a ceia de Natal.
Por pensamentos, a mente atormentada.
Quem seria aquele homem afinal?
Quando defronte a casa parou
alguém olhou pela janela puxando a cortina.
Porta da sala se abriu e ele avistou
sua esposa e filhos, o menino e a menina.
Abraçou filhos e a mulher com carinho.
Disse a eles como eram importantes.
Falou que pensara muito pelo caminho
e tudo seria diferente de antes.
Antes de José Vidal entrar
foi buscar a mala de viagem.
Na cabine leito ao olhar
parecia que vira uma miragem.
Havia três pacotes de presentes
embrulhados de maneira delicada.
Como chegaram ali não vinha á mente.
Olhava-os com fisionomia assustada.
Em cada pacote um nome escrito,
dos filhos e da esposa, com um laço.
A família emocionada por gesto bonito.
Todos o envolveram em um abraço.
Em casa, sentiu carinho e ternura,
sentando-se todos ao redor da mesa.
De amor e comida havia fartura.
Fizera a coisa certa, tinha certeza.
Em sua mente, pensamento fixo,
com misto de alegria e espanto.
Soltou um grito ao ver o crucifixo
colocado na parede em um canto.
O homem que com ele viajou,
como não percebera isto.
olhando o crucifixo á família falou:
“Esta noite dei carona á Jesus Cristo”.
Roberto Dias Alvares