CAMINHONEIRO CORAJOSO – Sinotruk 380 6×4

Sinotruk Howo 380

Sinotruk, caminhão chinês
é o bruto que eu dirijo.
Cumpre seu papel com altivez.
No transporte é tudo que preciso.

O motor é confiável
e ele tem super marcha reduzida.
Para qualquer carga é viável,
encara e vence qualquer subida.

Viajo, de confiança cheio.
Meu bruto pela estrada se arroja.
Levo trigo, cevada e centeio
ou carregado com milho ou soja.

Não fujo do trabalho
Carga para qualquer lugar levo.
Nos caminhos não me atrapalho
e as dificuldades relevo.

Em uma de minhas viagens
acontecimento mudou minha vida.
Interior mineiro naquelas paragens
já estava de partida.

O reboque tinha deixado
em uma grande transportadora.
Lá estava sendo carregado.
Uma viagem cansativa fôra.

Rodando pelo centro da cidade,
era noite naquele momento.
Vi menina, linda de verdade,
fugindo, tinha olhar atento.

Vi que era perseguida
por um homem mal intencionado.
Se a apanhasse estaria perdida.
Fui atrás com meu trucado.

Chegando em rua sem saída
a menina estava acuada.
Via-se que temia por sua vida.
Chorava e gritava desesperada.

O rapaz com a faca na mão
avançou com ferocidade.
Tive de agir com determinação.
Liguei o farol com toda intensidade.

O homem usava um capuz
e daquela faca estava armado.
Quando viu-se envolto na luz
ficou bastante assustado.

Dentro de meu caminhão
levava para minha segurança
um forte e resistente bastão.
De não usá-lo tinha esperança.

Desci do meu cavalo
segurando o bastão.
Se precisasse, iria usá-lo
contra aquele valentão.

Avancei em sua direção
Falei para deixar a jovem em paz.
Quando viu que eu tinha o bastão,
de enfrentar-me não seria capaz.

Com a faca em punho,
esquivou-se e saiu correndo.
De gratidão ela deu testemunho.
Agachou-se, ali permanecendo.

Fui ao encontro dela.
Chorando, demonstrava cansaço.
De perto era ainda mais bela.
A amparei em um abraço.

Falei para irmos embora dali
pois o lugar era perigoso.
Com a fuga do homem não me iludi.
Sair dali estava desejoso.

Ela entrou no caminhão
e saímos dali rapidamente.
Parei em lugar com boa iluminação.
Apenas eu e ela somente.

Ela chamava-se Angelina.
Morava em cidade do interior.
Viver na pobreza seria sua sina.
Recebeu oferecimento tentador.

Ela disse ter recebido proposta,
ganhar dinheiro como dançarina.
Sair da pobreza era a aposta.
Fôra enganada a pobre menina.

Enquanto me falava,
lágrimas banhavam seu rosto.
Tinha sido feita escrava
e levava uma vida de desgosto.

Dançava em uma boate.
De homens poderosos, acompanhante.
Estivera em festas, passeou de iate.
Como sairia daquela vida angustiante?

Dirigimo-nos á delegacia
do acontecido prestar queixa.
Ao vê-la qualquer homem se encantaria.
Corpo escultural e rosto de gueixa.

Um short mostrava sua pele morena
Cabelos negros, nos olhos, tom castanho.
Nariz delicado e boca pequena.
Uma beleza que não tinha tamanho.

O delegado nos recebeu
e contei sobre ato insano.
Vendo-a chorar, se convenceu
que fora vítima de tráfico humano.

Ao sairmos do posto policial
ela agradeceu-me novamente.
Perguntei a ela se afinal
havia na cidade algum parente.

Ela respondeu de forma negativa.
Perguntei onde ela residia.
A jovem, que outrora fora cativa
Disse que longe dali vivia.

Não tinha para onde ir.
Sem roupas e sem dinheiro.
Precisava para sua cidade partir.
Voltava a ela todo o desespero.

Pedi que acalmasse seu coração.
Eu não a deixaria abandonada.
Convidei-a a dormir no caminhão,
e amanhã uma decisão seria tomada.

Em uma parada de caminhoneiro,
estacionei meu negro caminhão.
Ela dormia, recostada no travesseiro.
Meu DEUS, mas que linda visão.

Inclinei do caminhão seu banco.
Acomodei-me com pouco conforto.
Demorei a dormir, para ser franco.
Despertei com o corpo torto.

Angelina ainda dormia.
Preferi não acordá-la.
Enquanto isso eu decidia
que para seu lar iria levá-la.

Duas horas depois
ela despertou enfim.
Saímos do caminhão, nós dois.
Ela bem pertinho de mim.

Ao entrarmos na lanchonete,
homens olhavam-nos sem parar.
No caminhão, ela valioso frete,
Estava ali a me acompanhar.

Tomamos café com leite
manteiga em gostoso pão.
Aquela linda menina, um deleite.
Verdadeiro colírio para a visão.

Caminhoneiros não paravam de olhar.
Angelina sentiu-se constrangida.
Disse a ela para não se preocupar,
pois a meu lado não seria coagida.

Enquanto o café era tomado
disse a ela que tomara decisão,
Eu mudaria o meu traçado
e a levaria em meu caminhão.

Sua cidade ficava distante,
mas deixá-la ali seria sacrilégio.
O que era mesmo importante,
levá-la e isso seria um privilégio.

Ela agradeceu-me emocionada.
Disse que não tinha como pagar.
Falei que isso não era nada
e que o importante era seu bem estar.

Falei apenas que ela teria
de acompanhar-me um pouco mais.
Aquele frete eu entregaria
E iríamos para a casa de seus pais.

A carreta já carregada.
O Sinotruk seguindo com valentia.
Encarei firme aquela estrada
pois rodaria todo aquele dia.

Mais uma noite a bordo,
deixei-a dormindo no caminhão.
Disse apenas: “Cedo acordo”.
Na rede adormeci com a solidão.

Dia seguinte bem cedo
pus o bruto em movimento.
Ela dormia sem ter medo
embalada pela irregularidade do pavimento.

Quando despertou no caminhão,
eu lhe disse para abrir o frigobar.
Lá ela encontrou presunto no pão
e suco para se alimentar.

Um carro se aproximou
vindo em alta velocidade.
Ao meu lado emparelhou.
Assustou-me a proximidade.

Um homem mandou-me parar.
Recusei isso, é claro.
Não tinha meios de escapar
e o lugar deserto, sem amparo.

Quando percebeu que não pararia
apontou revólver em minha direção.
Sem pensar no que faria,
Joguei sobre o carro o caminhão.

Eles conseguiram escapar
e pararam lá na frente.
Com as armas a mirar
atiraram impiedosamente.

Uma seqüência de disparos
feitos contra meu caminhão.
Eles pagariam muito caro
não sabia como resolver situação.

Os disparos, em profusão
atingiram para-choque e para-lama.
Abaixei-me atrás da direção.
Angelina ficara deitada no sofá-cama

Verdadeira chuva de balas caia.
Fui em direção ao carro no acostamento.
Tomar uma decisão eu teria.
Uma solução achei para o momento.

Quando perceberam minha intenção
entraram no carro para fugir.
Não teve jeito e com meu caminhão
ao carro eu consegui atingir.

O carro rolou uma ribanceira
incendiou-se e fez-se explosão.
Em marcha reduzida para terceira,
segui em frente, não parei o caminhão.

Angelina disse-me ter reconhecido
aquele carro que explodiu.
Um dos homens era o bandido
que a enganou e a iludiu.

Eles viram provavelmente
quando Angelina embarcou.
Massa informe somente
daquele carro o que sobrou.

Também os criminosos
pereceram na explosão.
Eram bandidos perigosos
e eu não tive outra opção.

Carregamento entreguei.
Deixei o reboque no local.
Angelina no cavalo levei,
reencontraria seus pais afinal.

Cheguei á pequena cidade
Uma casa humilde e aconchegante.
Um casal de avançada idade
saiu na rua em cena emocionante.

Quando Angelina desceu
foi abraçada pelos dois.
Neste longo abraço permaneceu.
Entraram na casa depois.

Fui convidado por Angelina
que fez questão de minha presença.
Contou o que passara aquela menina.
Sentia dos pais saudade imensa.

Passei horas agradáveis
ao lado daquela família.
Comigo foram amáveis,
sabendo que salvei sua filha.

Disse que teria de partir
pois necessitava trabalhar.
Antes que eu pudesse sair
Angelina veio comigo falar.

Disse-me que eu fora um cavalheiro.
Herói que salvara sua vida.
Depois, beijou este caminhoneiro,
que quase desistiu de ir para a lida.

Ela disse que seu eu quisesse
voltar a vê-la novamente.
Que o caminho até ali fizesse
e ganharia outro beijo ardente.

Percebi naquele instante
que minha vida sofrera mudança.
Assumi do bruto o volante,
sentindo no coração a bonança.

Trocamos números do celular.
Ela disse para eu não sumir.
Respondi que logo iria voltar.
Gosto do beijo de novo queria sentir.


Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

5 thoughts on “CAMINHONEIRO CORAJOSO – Sinotruk 380 6×4

  • 13/08/2014 em 21:50
    Permalink

    Rafael, parabéns pela repaginada no blog. Vida longa ao blog do caminhoneiro. Grande abraço.

    Resposta
  • 04/08/2014 em 23:49
    Permalink

    Poxa que texto maravilhoso! Historia envolvente de versos comoventes.

    Resposta
    • 05/08/2014 em 13:22
      Permalink

      Cristiano, obrigado pelos seus comentários. Se gostou, tem outras obras minhas no blog contando estórias da estrada.

      Resposta
  • 04/08/2014 em 22:37
    Permalink

    Rafael, boa noite. Você não tem idéia de minha alegria ao ver meu trabalho publicado naquele que considero um dos melhores, senão o melhor blog sobre caminhões do Brasil. Sei da responsabilidade de produzir um trabalho de qualidade e agradeço sempre a disponibilidade do espaço.
    Grande abraço.

    Resposta

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