UM AMOR A BEIRA DA ESTRADA
Meio dia, sol causticante.
No asfalto dá para fritar um ovo.
Ao longe, aproxima-se um gigante.
Belo cavalo mecânico Volvo.
No volante desta máquina colossal
O motorista Francisco Louvo.
Sobre ela tem domínio total.
Conduz o poderoso cavalo Volvo.
Lá fora, um sol para cada um.
Na cabine vinte graus a temperatura.
Igual Francisco Louvo nenhum.
Transforma em alegria aquela vida dura.
É sempre um otimista.
Não reclama se está frio ou calor.
Anda veloz pela pista.
Extrai toda a potência daquele motor.
Seu cavalo mecânico bicudo
Puxa uma pesada carreta.
Nela leva praticamente de tudo.
Farinha, arroz, feijão e azeitona preta.
O tempo extremamente quente.
Mais adiante via-se tudo escuro.
Francisco Louvo seguia em frente.
Bloco de nuvens formavam um muro.
O carreteiro seguindo sem medo
Via o prenuncio de tempestade tropical.
À beira da estrada um arvoredo.
Vento forte anunciava um vendaval.
O vento soprando mais intenso,
Levantava uma densa poeira.
Cortando aquele rincão imenso
Viu uma mulher da estrada à beira.
Segurava uma criança pela mão
E tentava protegê-la do vento.
Uma pequena mala repousava no chão.
Francisco decidiu parar naquele momento.
Parou o bruto à beira da estrada
E ofereceu uma carona a ela.
A mulher ficou assustada.
Era uma jovem senhora muito bela.
Com o vidro do bruto abaixado
Disse que estava perto a tempestade.
Estaria melhor estando a seu lado.
Não tinha má intenção na verdade.
Enquanto estava falando com ela,
Uma rajada de vento assustadora.
Área desprotegida era aquela.
A cabine do bruto era acolhedora.
A mulher deixou o medo de lado
E embarcou primeiro a criança.
Por Francisco ela foi ajudada.
Trouxe de seu filho a lembrança.
Francisco vivia sua viuvez.
Há dez anos perdera a parceira.
Manteve-se só por sua vez.
Levava uma vida solitária e ordeira.
O filho de Francisco era criado
Pela sua mãe enquanto viajava.
Amor da mãe, pela avó compensado.
O pai, mais do que tudo o amava.
Procurou tranquilizar a jovem senhora
Mostrando por ela respeito e seriedade.
A tempestade desencadeou-se àquela hora.
Um vendaval caia com severidade.
O nome da jovem eram Carmen.
Fora abandonada pelo marido.
Para casa do avô fazia a viagem.
Tinha um jeito reservado e contido.
Iria começar uma vida nova
E dar ao filho, de estudar a chance.
Para ela, sozinha uma dura prova.
Sentia a felicidade longe do alcance.
Não sabia se a carona inesperada
Seria para ela boa ou ruim.
Mas logo percebeu na conversa animada
Que tomara a melhor decisão por fim.
Usava um vestido de chita.
Procurava manter-se discreta.
Isso a deixava mais bonita.
Tinha atitude ordeira e reta.
Chuva, vento, trovões e raio.
Nada detêm a marcha da carreta.
Enfrentando aquele tempo temerário.
O menino assustado fazia careta.
Francisco Louvo propôs então
Descansarem na cama-leito.
Tinha grande conforto o caminhão.
Pela mãe do menino isso foi aceito.
Em posto de gasolina, parada.
Comer algo, ir ao banheiro.
Carmen disse que não queria nada.
Francisco mostrava-se um cavalheiro.
Ela e o pequeno menino
Desceram apenas para ir ao banheiro.
Francisco olhava em desatino.
Certamente estava com pouco dinheiro.
Na cabina, subiu a escada.
Carmen e seu filho já estavam lá.
Francisco trouxe dois xises salada,
E garrafas de água e guaraná.
Carmen fez menção de rejeitar
Mas a fome falou mais alto.
Enquanto comiam a viagem pode continuar.
A chuva caia persistente no asfalto.
A cidade de destino de Carmen
A setecentos quilômetros ainda.
Naquele dia não terminaria a viagem.
Por seu avô seria bem-vinda.
Mas nela bateu preocupação.
Onde a noite seria passada?
Dormiria com seu filho no caminhão?
Ou em algum hotel de beira de estrada?
Não tinha dinheiro para luxo
E ficou assim pensando então.
A carreta encarava o repuxo.
Francisco fazia precisa condução.
Dezenove horas, parada para descanso.
Ao lado do posto, um hotelzinho modesto.
Francisco olhava Carmen com jeito manso.
A jovem agradecida por seu gesto.
Ele disse que havia um quarto apenas
Mas era mais confortável que o caminhão.
Francisco admirava feições serenas.
Aquela mulher mexeu com seu coração.
Ao entrar naquela suíte
Carmen sentiu-se constrangida.
Francisco percebeu-a triste.
Procurou propor melhor saída.
Como era respeitador e ordeiro
Encontrou a saída afinal.
Ele dormiria na cama de solteiro.
Carmen e o filho, na cana de casal.
Aquela mulher, antes preocupada,
Percebeu o quanto ele era honrado.
Dormiu com o filho, despreocupada.
Francisco dormiu encabulado.
Logo que amanheceu o dia
Continuava a chuva e o frio.
Francisco para o trecho partia.
Logo cedo ele saiu.
Tomaram café reforçado
Pois bem mais tarde seria o almoço.
Francisco não percebeu, era admirado.
Carmen encantara-se por aquele moço.
Sua alma estava sofrida.
Por outra, pelo marido abandonada.
Sem saber o que seria de sua vida.
Sua confiança no amor abalada.
Mas Francisco com seu caráter reto
Mostrou o que é ser homem de verdade.
Com ela e o filho fora muito correto.
Não se aproveitou de sua fragilidade.
Francisco fez outra parada
Para descarregar e deixar a mercadoria.
Na próxima cidade ela seria deixada.
Tristeza Francisco já sentia.
Deixou o semirreboque para descarga
E com o cavalo levou a mãe e a criança.
Em ambos se via que a despedida seria amarga.
De revê-la o carreteiro tinha esperança.
Despediram-se com aperto de mão.
Carmen disse estar muito agradecida.
Francisco conteve a emoção.
Aquela mulher mexeu com sua vida.
Na casa de seu avozinho
Recebida com forte abraço.
Ela sentiu dele todo carinho.
A casa tinha para eles espaço.
Francisco partiu para a estrada
Mas para visitá-la pediu permissão.
Carmen sentiu-se emocionada.
Disse a ele que tinha dívida de gratidão.
Francisco aproveitou para responder
Que se uma dívida com ele havia.
Voltaria ali para dela receber.
Revê-la, aquela dívida pagaria.
Francisco foi-se embora
Ela achou que nunca mais o veria.
Francisco pensava nela toda hora.
Gostoso sentimento o invadia.
Carmen começou a trabalhar.
Era mulher muito prendada.
Fama acabou por ganhar
Pelas guloseimas preparadas.
Na pequena cidade ficou conhecida
E ganhou até concurso de bolo.
Pensava naquele que a ajudou na vida.
A promessa de Francisco era um consolo.
Quando ela perdeu a esperança
De rever o homem que a ajudou
Francisco tornara-se uma lembrança.
Que tinha visita, seu avô lhe avisou.
Ela foi mais cedo embora.
O coração batia acelerado.
Parecia que saltaria para fora.
Ela andava em passo acelerado.
Quando viu a carreta parada
Aquela que a trouxe a cidade.
Ficou bastante emocionada.
Ria sozinha se felicidade.
Francisco havia retornado.
Tanto tempo serviu para decisão.
Retornou decidido e apaixonado
E a Carmen pertencia seu coração.
Seis meses após
Realizava-se a união nupcial.
Ambos não estavam sós.
Duas crianças existiam afinal.
Francisco continuou viajando
Mas tinha bons motivos para voltar.
No coração sempre ia levando
Aquela que iria sempre amar.
Autor: Roberto Dias Álvares