História da Estrada – Bate E Volta Noturno
Sou motorista, estou desempregado.
Procurando trabalho abri o jornal.
Uma empresa que havia anunciado.
Viagem bate-e-volta para Blumenau.
Um motorista trazia a carreta da capital.
Mercadoria chegada no porto de Santos.
Trazidas a Londrina, de lá iriam para Blumenau.
Redistribuídas para diversos cantos.
Me candidatei a essa vaga.
Mostrei habilidade em cada manobra.
Me contrataram, viveria outra saga.
Talento e vontade sempre tive de sobra.
Fui apresentado à ferramenta de trabalho.
Maravilhoso cavalo mecânico Scania.
Sou bom profissional, sei quanto valho.
Afinidade com o bruto foi instantânea.
Logo na minha primeira viagem.
Saí de Maringá dezenove horas.
Cometer abusos não é sinônimo de coragem.
A minha frente, imenso caminhão de toras.
Eis que um dos cabos de aço.
Rompeu não aguentou a pressão.
Toras rolaram, seria um regaço.
Consegui desviar e livrar o caminhão.
Felizmente aqueles troncos imensos.
Não atingiram nenhum carro na rodovia.
Início da viagem, vivi momentos tensos.
Por causa disso não desistiria.
À noite escura, mas estrelada.
Nas longas retas eu acelero.
Café para encarar a madrugada.
Chegar na parte da manhã espero.
Para dirigir um cavalo Scania.
Tem que entender o seu manejo.
Essa máquina é contemporânea.
Na sua condução tenho traquejo.
Respeito limites de rotação.
O motor agradece e responde.
Na ponta dos dedos faço a condução.
Vou a qualquer lugar, me diga aonde.
Um ônibus me ultrapassa.
Vem um carro no sentido contrário.
Antevi o acidente, a desgraça.
Seria mais um caso no tráfego rodoviário.
Tirei para o acostamento.
O ônibus veio para meu lado.
Consegui controlar por um momento.
O Scania parecia cavalo indomado.
A calma e o sangue-frio mantive.
Felizmente, todos escapamos ilesos.
Quem é prudente e cuidadoso, sobrevive.
Maus motoristas acabam multados ou presos.
O dia amanhecendo, passei Curitiba.
Cidade bonita, exemplo de capital.
Excesso de velocidade não há quem iniba.
Eu seguia com calma rumo à Blumenau.
Aquela viagem inaugural.
Foi perigosa e muito agitada.
Até chegar à Blumenau.
Escapei de outra tragédia na estrada.
Pista molhada freada brusca.
Carros e caminhões andando colados.
Situação inusitada, a qualquer um assusta.
Veículos colidiram engavetados.
Eu andava no meu ritmo, devagar.
Mantinha do outro veículo a distância.
Conjunto pesado difícil parar.
Entre velocidade e habilidade, discrepância.
Desviei a tempo para não colidir.
Fui desviando de veículos a minha frente.
Sair ileso esperava conseguir.
Contava com a proteção Divina somente.
Entre duas carretas, passei bem justo.
Uma delas puxava tanque de gasolina.
Confesso que foi grande meu susto.
Do semirreboque, passou raspando a cabina.
Manobrei com toda perícia.
Evitei uma grande tragédia.
Nos jornais não seria notícia.
Mantive o Scania na rédea.
Ao chegar na cidade catarinense.
Dono da carga reclamou do atraso.
Não me justifiquei, quem trabalha, vence.
Disse que na próxima viagem chegaria no prazo.
Essa primeira viagem foi um teste.
Tenho certeza que passei com louvor.
A proteção de Deus me reveste.
Com o Scania, viajo para onde for.
Autor: Roberto Dias Alvares
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Uma história que reflete os riscos que os caminhoneiros enfrentam principalmente rodando a noite.