Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

História da Estrada – Carreteiro Aventureiro

Aos dezoito anos se tornou carreteiro.
Pela estrada dirigia contente.
Sentia-se livre e o espírito aventureiro.
Era um rapaz bonito e atraente.

Apesar do jeito rústico e pouco estudo.
Aprendeu com as experiências da vida.
Para ele, seu Mercedes Benz era tudo.
Divertia-se ao volante, naquela lida.

Levava carga para qualquer destino.
Não estava preso a nenhum lugar.
Era um adulto com alma de menino.
Vencer distâncias, amava viajar.

Tinha uma mulher em cada cidade.
Nenhuma delas era dona de seu coração.
Vento no rosto, era filho da liberdade.
Sempre indo atrás de emoção.

Conheceu o mar e virou surfista.
Presa atrás da cabine ia a prancha.
Tinha carteira “E” como motorista.
Tirou ARRAES para pilotar jet ski e lancha.

Mal chegava à casa de seus pais.
Pegava a bicicleta e ia para a pista.
Jogava futebol nas folgas do leva-e-traz.
Subia montanhas para apreciar a vista.

Ganhava dinheiro com suas aventuras.
Dirigir caminhão não é para qualquer pessoa.
A vida na estrada tinha suas agruras.
Contudo, ele encarava isso de boa.

Além de surf, aprendeu a fazer mergulho.
Comprou uma moto ninja Kawasaki.
Do Mercedes Benz tinha muito orgulho.
Pintura da cabine era um exótico cáqui.

Emendava um frete no outro.
Virava a noite se fosse preciso.
O Mercedes corria como um livre potro.
Aquele rapaz fez da vida seu paraíso.

Certo dia no barzinho com amigos.
Ele a viu, sentada em outra mesa.
Aquele sorriso era o maior dos perigos.
Seus olhos viram nela toda beleza.

Quando estava a fim de uma menina.
Flertava um pouco e ia conversar.
Logo ela estava com ele na cabina.
Com o rapaz, a noite já ia ficar.

Ele parecia enfeitiçado por ela.
A menina era linda e perfeita demais.
Que sensação estranha era aquela.
Jamais uma mulher lhe tirou a paz.

Ela percebeu que ele a olhava.
Entretanto não lhe deu moral.
Isso ainda mais o excitava.
Para outras meninas, ele era o tal.

Tomou coragem e foi até ela.
A menina tomava cerveja sem álcool.
De perto era ainda mais bela.
Ele sentiu nela um perfume de talco.

Ao se aproximar dela, disse “oi”.
A menina tomou um gole da cerveja.
Olhou para o rapaz e perguntou: “O que foi”?
Estava encantado com tanta beleza.

Para disfarçar que estava nervoso.
Foi direto ao assunto, papo reto.
As amigas o olhavam, olhar desejoso.
Dentro de seus olhos, ele olhava direto.

A menina estando com suas amigas disse:
Irei embora após terminar essa cerveja.
Se de novo quisesse que ela o visse.
Que a encontrasse antes da missa na igreja.

Missa? Igreja? Pensou ele perplexo.
Não tinha tempo para religião simplesmente.
Com mulheres, pensava só em sexo.
Com aquela menina o sentimento era diferente.

Perguntou qual missa ela iria.
Participaria com ela do ato religioso.
O que sentia por ela ainda não sabia.
Mas aquele sentimento era tão gostoso.

Era noite do domingo seguinte.
Ela estava na entrada do templo.
Ele chegou no Mercedes quinze e vinte.
De religiosa, a menina era exemplo.

Ele chegou até onde ela estava.
Entraram e a menina se pôs de joelho.
Com carinho ele a elogiava.
Viu seu rostinho corar de vermelho.

Na missa, ambos de mãos postas.
Sua alegria ao lado dela era tanta.
Admirava a delicadeza de suas costas.
A menina parecia uma santa.

Terminada a missa, após ter rezado.
Convidou-a para tomar sorvete.
Ela usava vestido bonito e recatado.
Ele calça jeans, camiseta e colete.

Levou a jovem para a casa.
Para ela, sexo só depois de casar.
Perto dela, seu corpo ficava em brasa.
A muito custo conseguia se controlar.

Nas viagens rodando longa distância.
Para aventuras não tinha o mesmo ânimo.
Pensar naquela menina era uma constância.
Por conhece-la, achava Deus magnânimo.

A bordo do seu dinossauro de aço.
Tinha agora outra motivação.
Queria aconchega-la em um abraço.
Que fosse um cavalo alado seu caminhão.

Ela aceitou o pedido de namoro.
Que ele a respeitasse era o desejo.
Daquele amor os anjos faziam coro.
Passou a se contentar apenas com beijo.

Ela tinha tanta doçura na voz.
Era firme e decidida, porém.
Gostavam de ficar juntos a sós.
Dormiam abraçados no Mercedes Benz.

Faziam planos para o casamento.
Mas a menina ficou muito doente.
Ela suportava calada o sofrimento.
O rapaz, essa dor também sente.

Abandonou por completo as aventuras.
Viajava somente de vez em quando.
Viveriam situação das mais duras.
Queria tornar sofrimento dela mais brando.

Ela cada vez mais debilitada.
Ele tentando se manter forte.
Não ia mais para a estrada.
Sem motivação para o transporte.

Pediu a menina em casamento.
Foi por amá-la e não por piedade.
Ela melhorou e isso foi um alento.
Vê-la bem era motivo de felicidade.

Ele guardou o Mercedes Benz.
Dentro de um imenso galpão.
Cuidaria dela como convém.
Ela precisava de toda atenção.

A menina ficou curada.
Ele arrumou outro emprego.
Nao iria mais para a estrada.
Amor de ambos era paz e sossego.

Ela sofria vendo-o naquele emprego.
Era vendedor atrás de um balcão.
Ao chegar em casa, fazia nela chamego.
Mistura de amizade, amor e paixão.

À noite se amavam intensamente.
Ela dormia deitada em seu peito.
Viviam um para o outro somente.
A alegria prevalecia naquele leito.

Os anos passaram como era para ser.
Mesmo frágil, ela lhe deu um filho.
Tinham mais motivos para viver.
Nos olhos de ambos se via um brilho.

Aquela família estava feliz.
O casal se amava e amava o menino.
Tanta felicidade era o que sempre quis.
Contudo, receberam duro golpe do destino.

Aquela doença voltou feroz.
Ele deixou o trabalho para cuidar ela.
Mostrava fragilidade na voz.
Enfermidade terrível era aquela.

Ela foi definhando dia após dia.
O marido não saia da beira da cama.
A ceifadora morte, a batalha vencia.
A vida se apagando como frágil chama.

Ela partiu para o céu suavemente.
Cercada de carinho do filho e marido.
A mãe e a esposa, para sempre ausente.
Aquele foi o mais lindo amor vivido.

Ele educou o filho da melhor maneira.
Encaminhou o agora rapaz à faculdade.
Em seus pensamentos, ela, a companheira.
Se amaram e se trataram com dignidade.

Estava agora sozinho em casa.
Vivia de lembranças do passado.
O coração ardia como brasa.
O pensamento voava, alado.

Depois de trinta anos, vai ao galpão.
Tira a corrente que está na porta.
Coberto de poeira, vê seu caminhão.
Ali abandonado, seu coração corta.

O velho estradeiro parece a sua espera.
Silencioso, a hora de entrar em ação não tarda.
Vira a chave, despertando a poderosa fera.
Voltar para a estrada, o Mercedes Benz aguarda.

O estradeiro vem para fora.
O seu motorista, um sorriso arrisca.
Voltar para a lida é chegada a hora.
Para outros carreteiros, o farol pisca.

Durante esses trinta anos afastado.
Já partiram, muitos amigos do trecho.
Ao volante, ele fica emocionado.
Que saudade do cavalo com terceiro eixo.

Voltar a dirigi-lo, que alegria.
Trocando marchas, pé no acelerador.
A bordo, a presença dela ainda sentia.
A morte não diminuiu aquele amor.

Não tinha mais a energia da juventude.
Não praticaria mais esportes radicais.
Sua profissão era pesada e rude.
Na estrada ele encontrou a paz.

Viajou por muitos anos mais.
Ajudou o filho a se formar em medicina.
Com o neto brincou e dele correu atrás.
Ser um bom avô era agora sua sina.

Contava ao garoto suas aventuras.
O menino encantado com o que ouvia.
Caderno da escola, desenhos e gravuras.
Pequenos caminhões pela rodovia.

Chegou finalmente seu último dia.
Foi de encontro àquela que tanto amou.
Morreu, mas seu rosto mostrava alegria.
Morte era uma passagem, sempre acreditou.

O filho dele guardou o Mercedes Benz.
Novamente abandonado no galpão.
Será que seria dirigido por alguém?
Só o tempo responderia essa indagação.

Dezoito anos se passaram do final.
O neto com as aventuras na mente.
Queria viajar e na estrada ser o tal.
Desejava ser carreteiro somente.

Seu pai sabendo do desejo do filho.
Vendo nele vontade de viajar que consome.
Colocou nos olhos do jovem um brilho.
Documentos do cavalo em seu nome.

O avô antes de partir para eternidade.
Documentos ao neto fez a transferência.
Sentia no neto, de ser carreteiro a vontade.
O Mercedes seguiria com sua descendência.

O jovem rapaz assumiu o volante.
Repetir as aventuras de seu avô querido.
Se realizou sendo aventureiro viajante.
Passos do pai de seu pai seria seguido.

Autor: Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

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