Caminhões russos URAL no Brasil
A Polícia do Estado do Maranhão operou pelo menos quatro caminhões russos modelo URAL 4320 (375 nas publicações ocidentais) 6×6, apreendidos no início dos anos 90, pela Receita Federal como importação ilegal no porto de Itaqui.
Tudo indica que 15 deles foram importados de forma irregular por algum particular e após sua chegada foram tomados pela Receita Federal que os manteve por algum tempo estocados no próprio porto, e posteriormente eles foram doados ao governo do Estado do Maranhão que os repassou para a Polícia Militar.
Pelo levantamento efetuado foi possível saber que todos eram da versão 6×6, ano 1989, versão posto de comando, possuindo um grande baú com uma mesa central com várias gavetas e nas laterais assentos. O curioso é que eles vieram com reboques de estação de tratamento de água e alguns com um gerador diesel, responsável pelo fornecimento de energia elétrica. Tais reboques parecem ser de uma versão civil, visto que não constam como equipamentos militares disponíveis para a venda nos catálogos militares russos (Russian Army’s 2002).
Eles impressionam pela rusticidade, tamanho e desempenho em terrenos acidentados. São todos mecânicos e com algumas facilidades para quem os opera no dia a dia, superando em muito as versões militarizadas em uso atualmente, por forças militares, fornecidos por empresas brasileiras, o que vale uma comparação. Outra curiosidade é que seus motores são KAMAJ V8 Diesel e não YaMAZ 6 ou 8 cilindros, como outras versões.
Estes veículos chegaram ao país na cor verde claro e ficaram abandonados por muitos anos, sendo que quatro deles receberam a pintura padrão preto e amarelo e emblemas da Polícia Militar do Maranhão e parece que ficaram operacionais por um breve período.
Posteriormente foram encostados com os demais em um depósito, junto com seus reboques e lá ficaram deteriorando, até que através de um leilão autorizado pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão – SEPLAN, pela Comissão Central de Licitação – CCL, foi então autorizado ao Leiloeiro Público Oficial do Estado em edital publicado em 19 de maio de 2005 a venda destes caminhões e reboques, bem como outros veículos e equipamentos, conforme consta do edital 001/2005-CCL. O valor mínimo para cada caminhão foi de R$5.800,00 e reboque R$450,00.
O triste disto tudo é que até aquele momento 27 caminhões Ural 4320 6×6 e 4×4 foram apreendidos e destes somente cinco se encontram em uso no Exército e Força Aérea.
Num momento de penúria por que passam as Forças Armadas, porque não manter um convênio com a Receita Federal de forma a que quando forem efetuadas apreensões deste porte, os veículos bem como outros equipamentos serem imediatamente transferidos, pois ao que tudo indica estes caminhões estavam em perfeito estado de funcionamento e conservação. São veículos superiores a tudo que possuímos em termos de caminhões militares no país, inclusive foram caminhões URAL do Exército Uruguaio, similares a estes, que participaram de manobras no sul do país com Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai, há alguns anos (Operação Cruzeiro do Sul). A facilidade com que estes caminhões se locomoviam por terrenos lamacentos e a ajuda que prestaram, inclusive ao desatolar blindados sobre rodas 6×6, impressionou os militares brasileiros.
Ora, poderíamos ter equipado algumas unidades com estes caminhões, a custo zero, mesmo que não sejam os ideais, servem como fator de comparação para futuras melhorias e até mesmo compras de similares que muito poderiam nos ajudar e garantir uma maior mobilidade dentro dos diversos tipos de terreno existentes no país e principalmente em relação às novas unidades e atribuições que estão sendo dadas, principalmente ao Exército Brasileiro. Com relação a seus reboques, estes poderiam prestar um bom auxílio aos locais de secas em regiões áridas, principalmente do nordeste brasileiro.
Sua plataforma poderia muito bem servir de base para um blindado com características “policiais” que muito bem se enquadraria na nova atribuição de Garantia da Lei e da Ordem e para as unidades de deslocamento rápido, além de permitir aos nossos engenheiros e técnicos um experimento prático com um item novo e praticamente desconhecido por nós, proporcionando ainda testes reais.
Texto de: Expedito Carlos Stephani Bastos – Pesquisador de assuntos militares da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG.