DESCIDA NA SERRA DA GRACIOSA – Mercedes Benz LP 321 6×2
Aconteceu essa passagem
nos idos da década de sessenta.
Época onde era sofrida cada viagem.
A rodagem seguia calma e lenta.
Para descer ao litoral
o trajeto era perigoso.
Estrada de beleza sem igual.
Trecho curto mas bem sinuoso.
A condução era criteriosa
feita pelo caminhoneiro Barqueiro.
Estrada da Serra da Graciosa.
Seguia este honesto caminhoneiro.
Duas horas era fechada,
permitida só a descida.
Ficava três horas liberada
para o retorno na subida.
Ao lado de GMC, Chevrolet Brasil,
Ford e Fenemês também,
Para o litoral Barqueiro seguiu,
dirigindo seu Mercedes Benz.
Puxando nesta viagem
miudezas e de alimentos carregado.
Barqueiro levava uma vantagem.
Seu Mercedes era trucado.
Enquanto qualquer estradeiro
levava oito toneladas no toco.
O cara chata do Barqueiro,
agüentava treze e mais um pouco.
Cento e vinte cavalos a potência
que era gerada pelo motor.
Trocando marchas com competência
Barqueiro ao seu bruto dava valor.
Ao voltar, subindo a serra
carregado de sardinha no sal.
O motor urra mas não emperra.
Anda com os outros pau-a-pau.
Neste continuo vai-e-vem
outros motoristas cometendo abuso.
Fazem na serra o que não convêm.
Dos caminhões fazem mal uso.
Barqueiro sempre contido
não dando sopa para o azar
sabia que um descuido cometido
era suficiente para se acidentar.
Mas outros motoristas
não pensavam bem assim.
Naquela estreita pista,
da viagem poderia ser o fim.
Um Chevrolet boca de sapo
passando por trecho bem feio,
Motorista e assistente em bom papo.
O seu bruto perdeu o freio.
Começou pegar embalo,
Não conseguia fazer engate.
Não sabia como pará-lo.
Levava carga de erva mate.
Barqueiro viu pelo retrovisor
o motorista gesticulando.
Percebeu em seu rosto terror.
No que fazer estava pensando.
Ele ia com o Mercedes á frente
com a carga bem presa.
Via-o aproximar-se rapidamente.
O que fez causou surpresa.
Aliviou o Mercedes na descida
engatando marcha mais leve.
Evitou na traseira a batida.
Mas ela ocorreria em breve.
Olhando pelo retrovisor
Sentiu do Ford a aproximação.
Deu uma aliviada no acelerador.
Encostou na traseira o caminhão.
Quando sentiu o impacto
manteve o seu bruto engatado.
O Ford, na traseira tinha contato.
Reduziu seu Mercedes trucado.
Pé no breque, marcha engatada.
Dos freios saía fumaça.
Aproximava-se curva fechada.
Contornaram no braço e na raça.
A velocidade diminuindo,
o Mercedes urrava de dor.
Barqueiro com habilidade agindo.
Segurava no freio e no motor.
Conseguiram enfim parar
a poucos metros, curva fechada.
Não iriam conseguir contornar.
A tragédia seria sacramentada.
Barqueiro prestou socorro
pois também era mecânico.
Calçou o caminhão no morro,
e trabalhou sem nenhum pânico.
Após efetuar o conserto
seguiu a frente do Ford.
Se passassem por novo aperto
o Mercedes mostrara-se forte.
Terminaram a descida
e o motorista para agradecer
queria pagar-lhe uma bebida.
Juntos, bom almoço iriam comer.
Barqueiro descarregou o cara chata.
Logo a seguir, de carga ao bruto lota.
Homem vendo Jandaia do Sul na placa:
“Deve ficar onde judas perdeu a bota”.
Barqueiro conteve a irritação
pelo desrespeito a sua cidade.
Entrou em seu caminhão,
e partiu em baixa velocidade.
Esperou o momento de abertura
para subir seria liberado.
Encararia mais uma viagem dura
com seu Mercedes trucado.
Depois de muito tempo passado
Barqueiro montou uma oficina.
Teve de desfazer do seu trucado.
Já não usufruía de sua cabina.
Quase cinqüenta anos passados,
Barqueiro lembra com saudade
dos difíceis trajetos enfrentados.
Era feliz apesar da dificuldade.
O seu Mercedes cara chata
onde foi parar não sabia.
Vendera-o em longínqua data.
Talvez no ferro velho já estaria.
Em sua oficina mecânica trabalhava.
De repente, no seu olhar um brilho.
Seu Mercedes, pelo portão adentrava.
Surpresa preparada por seu filho.
O seu filho Daniel
do bruto buscou o paradeiro.
Estava na cidade de Cascavel.
Ainda na ativa o estradeiro.
Estava bem judiado,
tanto a cabina quanto os pneus.
Teria de ser recuperado.
tornara um dos objetivos seus.
A carroceria, imprestável
foi logo descartada.
Estofamento deplorável.
A pintura toda descascada.
O motor era original
mas no ronco mostrava cansaço.
Necessitaria de recuperação geral.
Isso seria feito naquele espaço.
Também o filho Rogério
quis dar sua contribuição.
Achar as peças não tinha mistério.
Também ajudou na recuperação.
Pai e filhos, com dedicação
fizeram o que era preciso.
Iniciaram do bruto a restauração.
Era investimento e não prejuízo.
O motor para a retificadora
e a cabine para a lanternagem.
Encontrá-lo, muita sorte fôra.
Teria seu espaço na garagem.
Trabalhando nos fins de semana
procurando sempre peças originais.
Trabalho prazeiroso e bacana.
Voltar a ativa seria capaz.
Refeita a tapeçaria.
No motor pôs uma turbina.
Plataforma de carroceria.
Belo azul pintou a cabina.
Passou-se um ano e meio
e o trabalho estava terminado.
Aquele bruto velho, sujo e feio
voltara a ser caminhão respeitado.
Recebeu uma plataforma.
Como caminhão guincho trabalharia.
O antigo dono desta forma
de novo com seu caminhão ficaria.
Roberto Dias Alvares