COLUNA MOBILIDADE EM FOCO: CARGA PESADA, UMA SÉRIE INESQUECÍVEL
A série de televisão Carga Pesada foi exibida na Rede Globo de 22 de maio de 1979 a 2 de janeiro de 1981, semanalmente, às terças-feiras no horário das 22 horas. Dois eram os atores principais, com o mesmo peso e destaque cada um, Stênio Garcia e Antônio Fagundes. Foram exibidos 54 episódios em quase dois anos do programa no ar. Na equipe de criação estavam Carlos Queiroz Telles, Gianfrancesco Guarnieri e Walter George Durst. A supervisão do texto era do famoso escritor de novelas Dias Gomes. Era um programa de Daniel Filho e direção de Gonzaga Blota e Milton Gonçalves. Como se vê, com nomes de peso só tinha de fazer o sucesso que fez e ainda ser relembrado 36 anos depois.
A idéia do seriado surgiu em 29 de março de 1978, data de exibição do Caso Especial, com o filme “Jorge, Um Brasileiro”, que contava a história de um caminhoneiro que transportava cargas pelo interior de Minas Gerais. Carga Pesada, que deixou de ser exibido em janeiro de 1981, voltou ao ar em março de 1990, sendo exibidos cinco episódios no Festival 25 Anos. Cinco anos depois, de 27 de março a 31 de março de 1995, no Festival 30 Anos, cinco episódios foram novamente reprisados. Em 2003 a série voltou a ser exibida novamente a partir do dia 29 de abril de 2003 nas noites de sexta-feira, com episódios escritos por Walter Negrão. Não se tratava de um “remake” ou reprise dessa vez, mas sim da continuação da versão anterior, 24 anos depois.
A volta da gravação de novos episódios em 2003 também marcou a entrada em cena de um novo caminhão para os atores Stênio Garcia e Antônio Fagundes. Era um Volkswagen, modelo 18.310 Titan Tractor, versão cavalo mecânico, chassi de configuração 4 x 2, tracionando carreta graneleiro de três eixos. O VW 18.310 era o grande sucesso em vendas entre 2001 a 2005, para ser mais exato, o cavalo mecânico mais vendido no Brasil na categoria dos Pesados. Tal fator deixou estarrecido montadoras que eram tradicionais líderes em vendas nessa categoria, como Scania, Volvo e Mercedes.
E os três fabricantes que sempre dominaram as vendas nos caminhões acima de 43 toneladas de PBTC (peso bruto total combinado), acabaram por descobrir que não tinham caminhões específicos para concorrer em preço com o VW 18.310, que disparou em vendas e assumiu o posto de caminhão mais vendido no Brasil entre os pesados. No entanto, se analisarmos bem, Pedro e Bino, os personagens de Antônio Fagundes e Stênio Garcia, sobre certos aspectos, empobreceram entre 1979 e 2003. Entre 1979 a 1981 eles rodavam com um caminhão que era o rei das estradas em potência, torque, capacidade de carga, velocidade média, em tudo. Era um Scania LK-141, o mais potente caminhão fabricado no Brasil naquela época.
E em 2003 eles voltam às estradas com um caminhão de entrada do segmento dos pesados. Com potência de 303 cv, enquanto o LK-141 tinha 375 cv. Sem contar que o Scania tinha cabine dupla e muito mais espaço interno para guardar os pertences. Rodar nas estradas com o “King of The Road” era uma coisa, trafegar com um VW 18.310 Titan Tractor era outros quinhentos. Externamente até que o Volkswagen era bonito, cor vermelha e carenagem na cabine. Casava bem com a carreta graneleiro. Mas só, cabine simples para dois ocupantes viajar Brasil afora era de uma pobreza de espírito só.
Mesmo assim Carga Pesada foi exibida de 2003 até 2008. O seu fim não ocorreu por falta de audiência, mas sim pela agenda cheia dos dois atores principais, o que dificultava a gravação de novos episódios, pois eles participavam também de outros projetos da Rede Globo, como novelas. Agora, entre os dias 28 e 30 de abril a Rede Globo voltou a reprisar o seriado Carga Pesada, apresentando um compacto da série, no Festival Luz, Câmera, 50 anos, em comemoração aos 50 anos da Rede Globo. Pra finalizar, o Scania LK-141 utilizado na gravação da série entre 1979 a 1981 foi doado pela Scania em 1979 e ficou na Rede Globo até 1985, mesmo tendo sido encerrado as gravações em 1981.
Em 1985 a Rodoviário Michelon comprou o LK-141 da Globo, incorporando ele aos seus serviços de transporte até 1991. Neste ano um motorista agregado a transportadora gaúcha RM adquiriu o mesmo. Numa viagem ao Rio de Janeiro o LK-141, agora em novas mãos, foi apreendido pela Polícia Rodoviária. E o motivo decorria de terem descoberto que existiam mais três caminhões com a mesma numeração de chassi. Enquanto durou o problema o LK-141 ficou três anos parado, retido. Com a ajuda de advogados e até da própria Scania conseguiram provar que o LK-141 retido era o legítimo dono da numeração do chassi, sendo os outros dois caminhões de numeração igual, “cabritos”.
No entanto o caminhoneiro que comprou o caminhão da Rodoviário Michelon não ficou a ver navios, pois a transportadora RM repassou a ele, sem custos, um Scania 112. Depois de liberado, o Scania LK-141, numa viagem para a Argentina, se envolveu num grave acidente. Possivelmente hoje em dia o que resta dele, se restar ainda, está em algum ferro velho ou com peças transferidas a outros caminhões.
Texto/matéria: Carlos Alberto Ribeiro
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Fonte dos dados: Wikipédia e Portal Rodoviário.