Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

O RECOMEÇO – Mercedes Benz LPS 321 6×2

MB LP 321 6X2 VERDE

Aquele representante comercial
trabalhou toda uma vida.
Tantos anos de dedicação total.
A missão estava quase cumprida.

Apesar de ser vendedor
Lechenko sonhava com outra profissão.
Pelas estradas ser um transportador
dirigindo um potente caminhão.

Após tantos anos de entrega
trabalhando com dedicação e alegria
o governo alterou a regra.
Tão cedo não se aposentaria.

Agora não adiantava chorar.
Isso não é nada para quem trabalha.
A previdência quebrada não iria aguentar.
Foi administrada por gente canalha.

Não continuaria na mesma atividade,
iria partir para o recomeço.
Trabalharia naquilo que tinha vontade.
Faria trabalho pela qual tinha apreço.

Conversou com caminhoneiros experientes,
e disse que iria ingressar na profissão.
Queria saber somente
se podia sobreviver dirigindo caminhão.

Saiu daquela empresa
e com o dinheiro da indenização
só tinha uma única certeza.
Compraria um bom caminhão.

Um velho Mercedinho
antigo mas bem conservado
Para Lechenko seria o caminho
para na estrada ser iniciado.

Comprou barato o caminhão
mas tinha um problema:
Sem motor, câmbio ou transmissão.
Resolveria esse dilema.

Recorreu a um desmanche
e lá encontrou a solução.
Realização do sonho era a chance.
Seu bruto viraria um rojão.

Trezentos e trinta cavalos no motor
para puxar vinte toneladas.
Seria um caminhão pra se dar valor.
Um verdadeiro devorador de estradas.

Reforçou suspensão dianteira
para suportar o motorzão.
Potente e veloz máquina estradeira.
Lechenko não se cabia de satisfação.

Quando seu bruto ficou pronto
saiu para a primeira viagem.
Na estrada primeiro encontro.
Já chegou pedindo passagem.

Andando uma barbaridade
sempre com o farol aceso.
Conduzia com tranquilidade.
Andando no limite de peso.

Alguns amigos da estrada
Aprontavam e tiravam sarro.
Lechenko não ligava para nada.
Seu bruto tinha conforto de carro.

Toninho Gordura era o gerente
de uma grande transportadora.
No seu trabalho muito competente.
Um brincalhão sempre fôra.

Lechenko estava descarregando
e aproveitou para descansar.
Gordura ficou pensando
com ele o que iria aprontar.

Ali próximo uma cachorrada
que ficavam esperando alimento.
Toninho Gordura que não valia nada
aprontaria das dele naquele momento.

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Meia dúzia de vira-latas
pôs na carroceria do caminhão.
Lechenko voltava para seu cara chata.
Trazia dinheiro do frete na mão.

Despediu-se do Gordura
Partiu dando um aceno.
Toninho ria sozinho aquela altura.
Lechenko seguia com ar sereno.

De repente barulho estranho
chamou do Lechenko a atenção
Na carroceria algazarra sem tamanho.
Ouvia latido de um cão.

Ouvindo com mais cuidado
Não era somente um latido
O que por Lechenko foi escutado
Vários cães faziam alarido.

Parou no acostamento,
e olhou na carroceria do bruto
Seis cães naquele momento
olhavam para ele com cara de insulto.

Lechenko de boca aberta
No que via não acreditava
Era o Gordura na certa.
A essa hora, dele gargalhava.

Abriu a carroceria do caminhão
e foi uma loucura naquela hora.
Uma verdadeira confusão.
Cachorros pulavam para fora.

Corriam loucos pela estrada
voltando para o pátio da empresa.
Lechenko ficou dando risada
Gordura também ria com certeza.

Passados um ano e meio
Lechenko sentia-se um veterano.
Continuar no trecho, seu anseio.
Seu Mercedes reinava soberano.

Á transportadora sempre ia
e conversava com o Gordura.
Ao amigo ele às vezes dizia
que não tinha mais idade para loucura.

Mas Toninho Gordura pensava somente
em aprontar alguma sacanagem.
De Lechenko não passou pela mente
que teria surpresa na próxima viagem.

Pegou um cachorro vira-lata,
em um lençol foi embrulhado.
Colocou a bordo do cara chata.
O cãozinho ficou ali aconchegado.

Lechenko no bruto chegou o couro
sem imaginar que tinha um passageiro.
No meio do caminho, som lembrava um choro.
Mas não via de onde era o paradeiro.

Um uivo triste e assustador
vindo de dentro do caminhão.
Lechenko tomado pelo terror
pensou que era uma assombração.

Parou o bruto, desceu correndo
gaguejando apavorado.
Todo seu corpo estava tremendo.
Será que o caminhão era assombrado?

Um lençol saltou para fora em fuga
e corria descontrolado pela rodovia.
Era um vira-lata cheio de pulga
mas Lechenko disso não sabia.

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O lençol correndo de um lado.
Lechenko corria na direção contrária.
No fundo estava apavorado.
Para ele era uma visão extraordinária.

O cão conseguiu sair.
O lençol levado por rajada de vento.
Lechenko começou sozinho a rir.
Parou de correr naquele momento.

Assustado, manteve a compostura.
Correu tanto que achou ser seu fim.
Pensou: só pode ter sido o Gordura
que aprontou mais essa pra mim.

Ria e xingava ao mesmo tempo.
Não se habituava com as artimanhas.
De vez em quando um contratempo.
Gordura ria de suas façanhas.

Pensava em arrumar briga
e acabar com a amizade.
Mas Gordura era pessoa amiga
que gostava de brincar na realidade.

Fazia viagens de média distância,
ou ia bem mais longe às vezes.
No trajeto mantendo constância.
Cuidava bem do seu Mercedes.

Teve sempre boa amizade com Gordura
que o ajudava com algum frete bom.
Passou a transportar também verdura.
Na cabine ouvia gostoso som.

Os quinze anos para se aposentar
passaram rápido demais.
Lechenko na estrada queria continuar .
Mas a família queria ficar em paz.

Foi com dor no coração
e para ele momento difícil.
Vendeu seu belo caminhão
e acabou comprando um sítio.

Lá, nos fins de semana
encarava uma vida dura.
Com a família e a esposa Ana
também seu amigo Gordura.

Churrasco e um bom chimarrão.
Ele cantava e Gordura na viola.
Do passado riam com satisfação.
Os netos brincavam de bola.

Às vezes batia a saudade,
em Lechenko da vida estradeira.
Gordura pensava na verdade
em aprontar mais uma brincadeira.

A vida é sempre um recomeço
e Lechenko enfrentou sozinho.
Não desanimou com nenhum tropeço.
Descobriu e fez seu próprio caminho.

Agora estava aposentado
curtindo a família e os amigos.
Às vezes pensava no seu trucado.
Com ele venceu todos os perigos.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

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