Roubo de cargas Ă© uma modalidade de crime antiga, acontece desde os tempos mais remotos. A novidade Ă© o aumento significativo desta atividade ilĂcita que atinge proporçÔes de crescimento alarmantes. Os nĂșmeros divulgados pela mĂdia aumentam a preocupação de toda a sociedade e comprovam este crescimento assustador em roubo de cargas. Entre os dados que mais impressionam, menciono que, entre 2011 e 2016, os roubos de cargas custaram mais de 6 bilhĂ”es Ă economia brasileira, conforme aponta dados recentes da Federação das IndĂșstrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), estrangulando o lucro das empresas.
Para compreender as consequĂȘncias do crescimento deste Ăndice no Brasil precisamos analisar um pouco da realidade social do PaĂs, uma vez que as receptaçÔes estĂŁo fortemente ligadas Ă crise atual na segurança pĂșblica, na situação socioeconĂŽmica e, por fim, na crise moral e Ă©tica de alguns brasileiros.
No quesito segurança pĂșblica, Ă© clara a falta de investimentos em todas as esferas, assim como a falta de uma polĂcia mais integrada, aparelhada e treinada para tratar este tipo de crime nos mesmos moldes que existe para roubo a bancos ou sequestros. Cabe aqui para exemplificar como ressalva a competente DRFC (Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas do Rio de Janeiro), uma das poucas especializadas no PaĂs com competĂȘncia tĂ©cnica e profissional, mas sem nenhum apoio governamental. Ouso dizer que o cenĂĄrio carioca, um dos mais alarmantes, seria menos assustador caso a DRFC fosse apoiada por entidades governamentais.
O roubo de cargas, na maior parte dos estados, nĂŁo Ă© um indicador de segurança pĂșblica, o que o faz deixar de ser assunto prioritĂĄrio tornando-se um desequilĂbrio no ecossistema pĂșblico securitĂĄrio. Para entender a gravidade deste desvio de anĂĄlise menciono que, um celular roubado assume maior importĂąncia do que o roubo de uma carreta carregada de celulares pelo simples fato de o furto ser contabilizado pelo Estado como indicador de violĂȘncia. Vale acrescentar que, em cenĂĄrio ideal, nenhum tipo de roubo ou furto deveria ocorrer, mas vez que ambos podem acontecer, Ă© necessĂĄrio pontuar e igualar a importĂąncia entre os crimes.
O cenĂĄrio torna-se ainda mais crĂtico quando, alĂ©m da fragilidade na segurança pĂșblica, os fatores agravantes sĂŁo ampliados por uma crise socioeconĂŽmica que afeta diretamente a população carente desassistida, desempregada e, cada vez, contribuinte de impostos agressivos. Ou seja, um pĂșblico que Ă© cooptado facilmente. Por fim, a crise moral e Ă©tica fomentada pelos inĂșmeros exemplos negativos e pela percepção de impunidade, levando de pequenos a grandes bandidos travestidos de empresĂĄrios a se tornarem receptadores na busca de ganhos maiores.
Neste caminho de instabilidade, o crime organizado apenas aproveita a oportunidade, conseguindo roubar sem ter incomodo e com clientela certa âfĂsica e jurĂdicaâ. Esta ĂĄ principal origem do crime rentĂĄvel, que contribui para a compra de mais armas e mais drogas, retroalimentando um sistema criminoso e o tornando cada vez mais forte. Ou seja, mais uma vez impactando a crise socioeconĂŽmica.
As perspectivas de encontrar de soluçÔes, nĂŁo sĂŁo nada boas. Acompanhando vĂĄrios movimentos das entidades que reverberam discursos polĂticos, a situação Ă© realmente desanimadora. Por mais acaloradas que sejam as palavras e jargĂ”es impostados, o direcionamento para a solução nĂŁo Ă© claro. Problema Ă© conversado atĂ© entender a causa e o efeito.
A partir deste ponto deve ser encontrado, e colocada em pråtica uma solução, mas não é isso que se enxerga.
Para quem atua em posiçÔes de embarcador ou transportador, para os quais as avaliaçÔes de impactos fazem parte da rotina profissional, todo o caminho leva para uma entre trĂȘs possĂveis decisĂ”es: correr, assegurar ou tratar o risco. Fatos e dados mostram que nĂŁo Ă© possĂvel correr do risco e, por outro lado, os seguros estĂŁo extremamente limitados. Poucas sĂŁo as seguradoras que aceitam o desafio com relação a cargas e, as que aceitam, praticam preços estratosfĂ©ricos, inviabilizando os negĂłcios.
Neste cenĂĄrio, temos a opção de abandonar os negĂłcios ou assumir a responsabilidade por se proteger tratando o problema com assertividade, senso de urgĂȘncia e em sua expressĂŁo mĂĄxima.
Carlos Guimar Fonseca Junior, gerente de segurança da ICTS, empresa especializada em consultoria, auditoria e serviços em gestão de riscos, que possui ampla atuação no mercado de gestão de riscos, auditoria interna, compliance, gestão da ética, prevenção à fraude e gestão da segurança.