O CARRETEIRO E A GUEIXA – Cavalo Mecânico Ford Cargo 2842 6×2
A fazenda do senhor Toshio
era a mais bela da região.
Cortada por um grande rio.
Havia mata e imensa plantação.
Milhares de alqueires de trigo
ali estavam plantados.
Senhor Toshio era agricultor antigo.
Dono de terras dos mais respeitados.
Senhor Toshio tinha uma filha,
verdadeira pérola oriental.
Seu doce olhar era uma armadilha.
Linda face e olhar angelical.
Quando chegou época da colheita
Vários carreteiros foram contratados.
As colheitadeiras em simetria perfeita
Devoravam o trigo andando lado a lado.
O administrador da fazenda
deu aos motoristas recomendação.
Primeiro item de sua agenda.
Não olhar para a filha do patrão.
Nenhum mal comportamento,
com sua filha nenhum gracejo.
Prometida a outro em casamento.
De senhor Toshio era o desejo.
Era o filho do fazendeiro vizinho
e assim as fortunas seriam unidas.
Traçado assim, dos filhos o caminho.
Uniriam-se contra a vontade duas vidas.
Dentre os vários motoristas,
um deles chamava-se Rodrigo.
Gostava de rasgar as pistas.
Seu caminhão era seu amigo.
Estava ali a trabalho
e não queria rédeas no coração.
Á noite com amigos, jogar baralho
era a sua outra diversão.
Bruto novo mas financiado
era de Rodrigo o ganha-pão.
Ford Cargo 2842 trucado.
Esta máquina tinha na mão.
Tudo seguia correndo bem
e a filha do patrão ninguém via.
Rodrigo dirigia como ninguém.
Levando muitas toneladas pela rodovia.
Mas em um belo domingo
a jovem Aiko surgiu na varanda.
De repente viu um rapaz lindo.
No coração ninguém manda.
Rodrigo nem percebeu
pois andava apressado.
Examinava um pneu.
Zelava pelo seu trucado.
De repente sem ele esperar
Aiko aproximou-se de Rodrigo.
Quando a viu não sabia o que falar.
Sentiu que corria perigo.
A jovem o cumprimentou
e ele apresentou-se a ela.
Com educação lhe falou
que a menina era muito bela.
Ela agradeceu o elogio.
Não paravam de se olhar.
Rodrigo sentiu correr-lhe arrepio.
Pediu licença pois tinha que trabalhar.
No seu Ford Cargo
puxando quarenta toneladas
Rodrigo, rapaz de sorriso largo
Não conseguia pensar em mais nada.
Aqueles olhos, a boca, o nariz
formavam completa harmonia.
Rodrigo não sabia porque estava feliz.
Pensava em Aiko enquanto dirigia.
Rodrigo era muito competente
na condução do pesado bitrem.
Bom motorista e inteligente.
Mas nunca apaixonara-se por ninguém.
Quando retornava, aquela menina,
encantadora, pele lisa como ameixa.
Observava-o escondida, na surdina.
E ele, enfeitiçado pela linda gueixa.
Nas viagens era um martírio.
Lembrava-se dela a todo momento.
Aquele suave perfume de lírio,
confundia e povoava seu pensamento.
Metade da safra fora colhida.
Havia muito trigo para transporte.
Rodrigo mal chegava já de partida.
Mostrava no trecho ser homem forte.
No domingo, seus amigos bebiam e no jogo.
Rodrigo saiu para fazer um passeio a pé.
Queria de seu peito apagar aquele fogo.
Não seria seduzido é nisso tinha fé.
Escutou um cavalo em sua direção.
Ao vê-la cavalgando ficou paralisado.
Era Aiko, a filha do seu patrão.
Seu coração seria de novo testado.
Quando ela aproximou-se de Rodrigo,
o rapaz ficou olhando-a sem ação.
Perdia de vista plantação de trigo.
Ambos declararam a mútua paixão.
Rodrigo tentou resistir
mas perdeu-se naquele olhar.
Não adiantava mais fingir.
Com ela, ele queria ficar.
Nos encontros ás escondidas
enlaçavam-se em um abraço.
Enfim, entregaram suas vidas
fazendo amor no cavalo de aço.
Nestor era um carreteiro
não gostava de Rodrigo.
Invejoso e desordeiro.
Não tinha nenhum amigo.
Foi o primeiro a notar
que entre os jovens havia amor.
Começou mais de perto a vigiar.
Em flagrante, queria pegá-los o Nestor.
Desde quando o amor existe
existe também o sofrimento.
Os dois receberam notícia triste.
De Aiko fora marcado o casamento.
Enquanto Rodrigo trabalhava
fazendo uma viagem por dia
em uma maneira ele pensava
de como com Aiko ficaria.
Foi então que o carreteiro Nestor
destilou todo seu veneno.
Queria falar com o administrador.
O assunto não era nada ameno.
Disse que tinha algo importante
para contar ao senhor Toshio.
Foi levado a ele no mesmo instante.
O escritório estava vazio.
Senhor Toshio entrou na sala.
O que ouviu machucou seu ego.
O ódio embargou-lhe a fala.
Desejo de vingança deixou-o cego.
Sua filha fora desonrada
E por isso tomaria providência.
Cerimônia não seria realizada.
O que fizeram era uma indecência.
Chamou o seu administrador
para que trouxesse até ele o rapaz.
Pelo que fizera sofreria dor
para não desobedecê-lo nunca mais.
Quando foram buscar Rodrigo
entre os homens estava Nestor.
O rapaz nem imaginava o perigo
e que um carreteiro fora o delator.
Na presença do fazendeiro
após ser insultado e ofendido.
Rodrigo foi feito prisioneiro
até que seu destino fosse decidido.
Por grupo de homens agredido
e deixado em uma sala preso.
Não estava muito ferido,
mas ali estava indefeso.
Aiko foi chamada por seu pai
que com autoridade foi dizendo:
“Cumprir minha promessa você vai”.
“O filho do fazendeiro não está sabendo”.
Todos foram proibidos de comentar
sobre Aiko e sua paixão por Rodrigo.
Assim ela poderia se casar
e realizar do seu pai desejo antigo.
Quando pelos carreteiros foi descoberto
que Nestor cometera ato de traição.
O invejoso pagaria isso era certo
pelo que fizera com um estradeiro irmão.
Os outros motoristas de caminhão
estavam muito revoltados.
Em Nestor queriam dar uma lição.
Pelo grupo de carreteiros espancado.
A coisa só não ficou pior,
pelos empregados foi socorrido.
Viu que para ele seria melhor
de lá o mais rápido ter sumido.
Os empregados em ato de crueldade
disseram que Aiko iria casar-se em dois dias.
De fugir, Rodrigo tinha necessidade.
Mas como sair dali ainda não sabia.
De estar preso, Rodrigo estava farto.
Sem a menor chance de escapar.
Aiko também fora presa em seu quarto
até o dia marcado para se casar.
Dois homens traziam comida
e também vinham espancar Rodrigo.
Ele não sabia o que seria de sua vida.
Não podia contar com nenhum amigo.
Não deixou de se alimentar
e em sua mente engendrou plano.
Fuga dali teria de tentar.
Era ato desesperado e insano.
Nove horas da noite a hora.
Dois homens vieram espancá-lo.
Rodrigo pensou: “É agora”.
Saltou sobre eles como um galo.
Pegos assim de supresa,
sem tempo para alguma reação.
Rodrigo, usando força e esperteza
conseguiu escapar da prisão.
Trancou a porta a chave
e os homens ficaram presos.
Escapar da fazenda único entrave.
Ele e Aiko teriam de escapar ilesos.
Na janela atirou um pedrisco
para tentar chamar a atenção.
De ser visto, corria o risco.
Mas não partiria sem sua paixão.
Aiko abriu a janela da sacada
e Rodrigo chamou por ela.
A jovem disse estar enclausurada.
Situação difícil era aquela.
Ele disse que a libertaria.
Ela na sacada olhava pela borda.
Até seu cavalo, Rodrigo corria.
Foi buscar um rolo de corda.
A chave de seu potente cavalo
pendurada do lado de fora da parede.
Pegou a sua, rolo de corda ia levá-lo.
Da liberdade ambos tinham sede.
Até á sacada voltou bem rápido.
Arremessou-a até onde ela estava.
Seria um jeito simples e prático.
Esperança de liberdade levava.
Quando o dia amanheceu
senhor Toshio ficou surpreso.
Sua filha desapareceu
e Rodrigo não estava mais preso.
Os dois homens após a soltura
disseram ser vítimas de cilada.
contaram ao sair da clausura
que de Rodrigo receberam pancada.
Ao saírem para fora
viram a corda pendendo da sacada
Rodrigo e Aiko foram embora.
no Ford Cargo partiram pela estrada.
O semirreboque foi deixado
e em meio à noite escura
a bordo do cavalo trucado
já estavam longe aquela altura.
Senhor Toshio com ódio profundo
tendo seus empregados como escolta
disse que iria até o fim do mundo
panas traria sua filha de volta.
Naquele momento contudo
Rodrigo e Aiko estavam distantes.
Aquele cavalo mecânico parrudo
levava para longe os dois amantes.
Na fazenda, as pessoas confusas.
O casamento marcado para aquele dia.
Senhor Toshio, preso a tradições obtusas,
aquela traição da filha não admitia.
Mandou pistoleiros e um batedor
para de ambos achar a pista.
Para ele a vida de ambos sem valor.
Toshio não iria perdê-los de vista.
A quatrocentos quilômetros de distância
o casal parou em um posto de gasolina.
O rapaz mantinha-se em vigilância.
Tinha de proteger e cuidar daquela menina.
Naquela parada de estradeiros
presença deles era maciça.
Havia um padre caminhoneiro
que realizava ali uma missa.
Aquele dia, véspera de domingo
Aglomeração de pessoas a rezar.
Era o padre Gumercindo.
Baú do seu caminhão era o altar.
Os jovens apaixonados
Entraram na loja de conveniência.
Rodrigo mostrava-se agitado.
O rapaz estava sem paciência.
Quando estavam de saída
a missa encaminhava-se para o final.
Rodrigo olhou para o amor de sua vida
e teve uma ideia genial.
Quando a missa chegou ao final
Padre Gumercindo desfazia o altar.
Aproximou-se dele um casal.
Pediu para o padre os casar.
O padre ficou surpreso
e Rodrigo explicou-lhe a razão.
Ambos chegaram a ficar presos.
Por isso tomaram essa decisão.
Padre Gumercindo, bom coração,
viu que aquele casal se amava.
Faria de ambos a união.
De duas testemunhas precisava.
Convocou dois irmãos da estrada
que aceitaram a incumbência.
A cerimônia foi ali realizada.
Amor a Deus juraram obediência.
Ambos assinaram livro de registro
e as testemunhas assinaram também.
Casados em nome de Jesus Cristo.
Depois do sim disseram amém.
Os dois continuaram fugindo
mas não poderiam fugir a vida toda.
Na cabine do Ford Cargo dormindo
o casal celebrava a sua boda.
Após meses de perseguição
O casal foi apanhado.
Senhor Toshio com ódio no coração,
de volta à fazenda o casal foi levado.
Ao volante do Ford Cargo
Rodrigo tinha pistoleiro de carona.
Passou momento amargo.
Sua força moral veio à tona.
Lá na fazenda haveria punição.
De vingança, Toshio era um pessoa ávida.
Quando seria feita de Rodrigo a execução,
Aiko disse que do rapaz estava grávida.
Houve surpresa de todos.
Nem Rodrigo disso sabia.
Ele e Toshio com cara de bobos
À beira da morte, sorriso de alegria.
Toshio aproximou-se da filha
olhando-a de alto a baixo.
Perseguiu-a milha após milha,
mas seu coração não era de aço.
O fazendeiro abraçou-a com afeto.
Ela com lágrimas escorrendo no rosto.
Disse ao pai: “Vai chegar o seu neto,
e sei que disso o senhor fará gosto”.
Senhor Toshio em contida felicidade
esqueceu a punição e o castigo.
Deu ordens com toda autoridade
para que libertassem Rodrigo.
Cumprido este ato concreto
como membro da família foi aceito.
Afinal era o pai de seu neto
e tornou-se seu braço direito.
Autor: Roberto Dias Álvares
Eita coisa linda, o amor supera tudo!
Lido poema!
Uma história que celebra o amor de um casal a bordo do Ford Cargo 2842. Espero que gostem dessa história.