Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

História da Estrada – TEMPOS MODERNOS

Vivemos tempos modernos.
Pessoas e veículos em constante correria.
Não se desfrutam mais momentos ternos.
A pressa gera ansiedade e histeria.

No mundo do transporte rodoviário
O que acontece não é diferente.
Homens e mulheres no trabalho diário.
Cortam de norte ao sul esse País continente.

A bordo de caminhões eletrônicos.
Máquinas com a mais moderna tecnologia.
Motoristas muitas vezes ficam atônitos.
A máquina humana não sente mais alegria.

Os caminhões são máquinas de puxar carga.
Executam o trabalho com eficiência e precisão.
Andar nos brutos, vício que o carreteiro não larga.
Essas máquinas não sentem e não tem coração.

Apesar de não serem seres vivos, orgânicos.
Os estradeiros parecem ter seu próprio humor.
Motoristas aceleram os cavalos mecânicos.
O bruto reage conforme quer seu condutor.

Motorista com pressa, o bruto voa pela pista.
Motorista apaixonado, a cabine transborda amor.
Anda dentro do limite, ponderado motorista.
Cada caminhão tem do dono o humor.

O caminhoneiro é um ser vigiado.
Tacógrafo, e sistema de rastreamento.
O motorista não pode fazer nada errado.
Estão de olho em cada movimento.

O mundo contemporâneo
O motorista é considerado uma peça.
Na pilotagem, usa pouco o crânio.
Basta o pé no acelerador e andar depressa.

Tem de guiar dia e noite, noite e dia.
Alguns apelam para o rebite.
É o responsável por movimentar a economia.
Em sua defesa, sindicato se omite.

Os caminhoneiros dos dias atuais
Exigem acima do que o corpo suporta.
Alguns dormem ao volante, não aguentam mais.
A família não o verá entrando pela porta.

O homem, o profissional do volante
Não é um autômato ou um robô.
A mente com rebite fica titubeante.
Dorme de olho aberto pois o sono chegou.

No passado a vida seguia sem pressa.
O caminhão e o motorista em sintonia.
O homem era o cérebro, não uma peça.
O trabalho era feito com mais alegria.

O engate preciso feito com o ouvido.
Mudava a marcha na rotação do motor.
Havia também o criminoso, o bandido.
Mas havia também em cada lugar um amor.

Para diminuir a saudade que costumava apertar,
Havia bela mulher, do anoitecer até a aurora.
Algum caminhoneiro chegava a se apaixonar.
A meretriz se tornava respeitável senhora.

Os bitrens puxam muitas e muitas toneladas.
Cavalos mecânicos empinam no supremo esforço.
Deixam marcas profundas nas estradas.
Tamanho é o peso que carregam no dorso.

A carreta com sua carga adequada.
Não maltratava e não destruía o asfalto.
O carreteiro era o herói da madrugada.
Cortando a noite escura com farol alto.

O caminhão toco ou trucado
Não era chamado de muriçoca.
O motorista que ficava apurado.
A carta-frete era certeza de troca.

Adiantava dinheiro e abastecia.
Fazia refeição no restaurante.
Depois, para o trecho o motorista ia.
Dirigia com prazer o seu possante.

Braços musculosos o chofer possuía.
Caixa seca e volante queixo duro.
Dirigir caminhão era sua academia.
Trocava o pneu quando tinha algum furo.

O motorista do passado não fazia fita.
As rodas de viola serão lembranças eternas.
O calor do motor esquentava a marmita.
Caminhoneiro não tinha pelo nas pernas.

Existia dificuldades até demais.
Mas existia também muita união.
O caminhoneiro trabalhava em paz.
Na estrada era ele e seu caminhão.

Não haviam os locais para descanso,
Os carreteiros paravam em qualquer lugar.
À beira de um riacho próximo ao remanso.
Ali preparava com calma o almoço ou jantar.

Combinavam de parar com outros carreteiros.
E nos pátios dos postos era uma festa.
Cantavam ao som dos violeiros.
Saudade daquela época é tudo que resta.

A evolução das máquinas trouxe vantagens.
Contudo, tirou dos caminhões a magia.
Eram grandes aventuras aquelas viagens.
O caminhoneiro partia sem saber se chegaria.

O caminhoneiro dos tempos antigos,
Olha para o passado com nostalgia.
Relembra com saudade dos amigos.
Mesmo na dificuldade, sobrava alegria.

O caminhoneiro dos dias atuais,
E um homem conectado à tecnologia.
O conforto da cabine é bom demais.
Não tem mais a aventura que havia.

Quando pelas estradas se via o FNM.
Scania Vabis jacaré, Mercedes Benz.
Iveco, Fiat, Volvo e até o GMC.
Chevrolet, Ford e Dodge também.

Tempos áureos do transporte
Caminhão e motorista desafiando perigos.
O caminhoneiro era um forte.
A boleia do bruto era o melhor dos abrigos.

O governo quer aprovar uma lei.
Tirar das estradas os estradeiros veteranos.
Criar dificuldade a muito trabalhador eu sei.
Banir caminhões com mais de trinta anos.

Foram esses brutos valentes.
Que fizeram a história do transporte.
Agora, por lei criada por incompetentes.
Condenam os brutos a uma triste morte.

Tenho certeza que essa lei não vinga.
Ainda veremos FNMs daqui a cem anos.
O caminhoneiro tomando seu gole de pinga.
Sobreviverão muito ainda os veteranos.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

2 thoughts on “História da Estrada – TEMPOS MODERNOS

  • Roberto Dias Alvares

    Marcio Koguta, que bom que minha história foi de encontro a realidade de um profissional da estrada. Tudo que escrevo nas minhas histórias refletem o que sinto também.

  • Esse poema se encaixa na minha realidade, parabéns…

Fechado para comentários.

%d blogueiros gostam disto: