J. Pedro CorrĂȘa – Saindo da estrada

por J. Pedro Correa

No momento em que escrevo este artigo, as notícias na imprensa nacional ainda exploravam a convocação do Ministro da Justiça e do Diretor Geral da Polícia Rodoviåria federal para explicar no Congresso Nacional o envolvimento da PRF em operaçÔes de apoio à outras forças policiais que resultaram na morte de dezenas de pessoas. Muito triste! Neste momento em que os nervos estão exaltados pela proximidade da campanha eleitoral no país, é natural que este fato seja aproveitado pela oposição para explorar mais um tropeço do governo enquanto a situação busca relativizå-lo para, se possível, abafå-lo.

Não vou entrar no julgamento político dos fatos mas julgo imprescindível abordar o assunto por uma razão tão simples quanto fundamental: não podemos perder a nossa PRF num momento tão importante para o trùnsito brasileiro. Ela é peça fundamental para ajudar o país a melhorar seus indicadores de trùnsito e a enfrentar os grandes desafios à frente.

JĂĄ estamos quase na metade do segundo ano da segunda dĂ©cada mundial de trĂąnsito e o trabalho da PRF Ă© essencial no patrulhamento das rodovias federais; O Pnatrans, nossa grande esperança de ter um consistente plano de redução de mortos e feridos, promete decolar; o MinistĂ©rio da SaĂșde fala de um ambicioso plano de ação para combater, pelo seu lado, os sinistros de trĂąnsito; Estados e municĂ­pios discutem como viabilizar os planos de ação elaborados pelo Pnatrans. A agenda Ă© grande, ambiciosa e sabemos que nos faltam recursos de toda ordem para aguentar firme atĂ© 2030. Assim, o PaĂ­s nĂŁo pode se dar ao luxo de perder, mesmo que em parte, um suporte fundamental como o da PRF.

Ao longo dos Ășltimos anos temos visto, com certa frequĂȘncia, a participação da PRF em açÔes policiais que ultrapassam os limites do trĂąnsito rodoviĂĄrio que Ă© a razĂŁo de ser de sua existĂȘncia. Passamos a ver apoio direto a operaçÔes de outras forças policiais no combate ao crime comum. É claro que houve um ato do Ministro da Justiça autorizando a extensĂŁo de campo de ação da PRF mas Ă© precisamente isto que estĂĄ sendo questionado. Por mais que se diga o contrĂĄrio, Ă© claro que, numa ponta, esta “extensĂŁo do campo de ação” diminui a capacidade da PRF no monitoramento das rodovias e o principal: na outra ponta, nĂŁo resolve o problema do combate ao crime organizado.

Todos sabemos que nĂŁo Ă© enfraquecendo a fiscalização rodoviĂĄria que vamos resolver a violĂȘncia cotidiana do crime no Brasil. NĂŁo entro, sequer, no mĂ©rito da ideologização polĂ­tica da ação, assunto complexo que nĂŁo quero abordar por aqui. Me restrinjo unicamente ao fato de que a PRF – inteira – Ă© indispensĂĄvel no combate aos delitos de trĂąnsito rodoviĂĄrio e nĂŁo podemos perder nem um pedaço nela.

O que mais doeu nestas Ășltimas semanas foi ver nĂŁo apenas um resultado amargo para a PRF mas principalmente a deterioração do seu nome, da sua imagem. As Ășltimas operaçÔes desastrosas mancharam forte a imagem da corporação. Quem trabalha com comunicação sabe muito bem que, para fortalecer a imagem de uma instituição, Ă© preciso um forte trabalho durante muitos anos mas para perder a reputação basta uma simples fraquejada. E esta nĂŁo foi “simples”.

O MinistĂ©rio PĂșblico Federal estĂĄ intercedendo para que a PRF seja proibida de atuar fora de sua ĂĄrea natural de operaçÔes, o policiamento rodoviĂĄrio. Sabemos, contudo, que esta serĂĄ uma batalha difĂ­cil de vencer pois as condiçÔes que levaram a PRF a sair da sua estrada natural tĂȘm outras implicaçÔes. SerĂĄ preciso que a classe polĂ­tica, diante da gravidade do problema, se una para colocar um basta neste desvio de caminho da PRF. Parece difĂ­cil imaginar uma ação polĂ­tica deste porte hĂĄ poucos meses das eleiçÔes.

Pelo que se divulgou durante a semana, jĂĄ no Ășltimo curso de formação de mais de 1.000 agentes da PRF, nĂŁo havia mais as disciplinas de educação para o trĂąnsito, direitos humanos nem Ă©tica, o que pode indicar de maneira clara uma nova direção. Por isto Ă© essencial exigir com todas as forças o retorno da PRF ao seu caminho tradicional.

O trĂąnsito brasileiro jĂĄ tem problemas demais para se envolver em mais um desta proporção. O Brasil tem praticamente tudo o que precisa para chegar a 2030 com condiçÔes de atingir as metas da ONU/OMS de reduzir em 50% o nĂșmero de fatalidades no trĂąnsito. Temos gente qualificada para tocar um programa bem sucedido de açÔes; Se tivermos um bom plano e uma boa equipe, os recursos aparecerĂŁo. Falta-nos, como sempre soubemos, vontade polĂ­tica para agir. Agora, pelo jeito, teremos mais um desafio: enfrentar quem tambĂ©m estĂĄ jogando contra. Jogo bruto e cruel.

J. Pedro CorrĂȘa – Consultor em programas de segurança no trĂąnsito
jpedro@jpccommunication.com.br

2 comentĂĄrios

Luiz OtĂĄvio Lopes 04/06/2022 - 20:40

Essa visĂŁo de tirar a PRF da sua missĂŁo constitucional de realizar o patrulhamento ostensivo das rodovias e estradas federais, jĂĄ vem de algum tempo, vejo que a PRF deveria se voltar para a sua missĂŁo constitucional e, melhorar a fiscalização do trĂąnsito nas rodovias, bem como tambĂ©m, dos crimes e descaminho cometidos em sua circunscrição. Criminosos, crimes, armas, drogas seram sempre fragados em seu trabalho de fiscalização do trĂąnsito. AlĂ©m de contribuir muito no combate Ă  diminuição do nĂșmero de acidentes e vĂ­timas do trĂąnsito.

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Dalton 04/06/2022 - 20:34

A PRF Ă© uma instituição fundamental para a seguranca pĂșblica do paĂ­s. Os caminhoneiros que o digam quando sĂŁo abordados pelas outras corporaçÔes

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