No momento em que escrevo este artigo, as notĂcias na imprensa nacional ainda exploravam a convocação do Ministro da Justiça e do Diretor Geral da PolĂcia RodoviĂĄria federal para explicar no Congresso Nacional o envolvimento da PRF em operaçÔes de apoio Ă outras forças policiais que resultaram na morte de dezenas de pessoas. Muito triste! Neste momento em que os nervos estĂŁo exaltados pela proximidade da campanha eleitoral no paĂs, Ă© natural que este fato seja aproveitado pela oposição para explorar mais um tropeço do governo enquanto a situação busca relativizĂĄ-lo para, se possĂvel, abafĂĄ-lo.
NĂŁo vou entrar no julgamento polĂtico dos fatos mas julgo imprescindĂvel abordar o assunto por uma razĂŁo tĂŁo simples quanto fundamental: nĂŁo podemos perder a nossa PRF num momento tĂŁo importante para o trĂąnsito brasileiro. Ela Ă© peça fundamental para ajudar o paĂs a melhorar seus indicadores de trĂąnsito e a enfrentar os grandes desafios Ă frente.
JĂĄ estamos quase na metade do segundo ano da segunda dĂ©cada mundial de trĂąnsito e o trabalho da PRF Ă© essencial no patrulhamento das rodovias federais; O Pnatrans, nossa grande esperança de ter um consistente plano de redução de mortos e feridos, promete decolar; o MinistĂ©rio da SaĂșde fala de um ambicioso plano de ação para combater, pelo seu lado, os sinistros de trĂąnsito; Estados e municĂpios discutem como viabilizar os planos de ação elaborados pelo Pnatrans. A agenda Ă© grande, ambiciosa e sabemos que nos faltam recursos de toda ordem para aguentar firme atĂ© 2030. Assim, o PaĂs nĂŁo pode se dar ao luxo de perder, mesmo que em parte, um suporte fundamental como o da PRF.
Ao longo dos Ășltimos anos temos visto, com certa frequĂȘncia, a participação da PRF em açÔes policiais que ultrapassam os limites do trĂąnsito rodoviĂĄrio que Ă© a razĂŁo de ser de sua existĂȘncia. Passamos a ver apoio direto a operaçÔes de outras forças policiais no combate ao crime comum. Ă claro que houve um ato do Ministro da Justiça autorizando a extensĂŁo de campo de ação da PRF mas Ă© precisamente isto que estĂĄ sendo questionado. Por mais que se diga o contrĂĄrio, Ă© claro que, numa ponta, esta âextensĂŁo do campo de açãoâ diminui a capacidade da PRF no monitoramento das rodovias e o principal: na outra ponta, nĂŁo resolve o problema do combate ao crime organizado.
Todos sabemos que nĂŁo Ă© enfraquecendo a fiscalização rodoviĂĄria que vamos resolver a violĂȘncia cotidiana do crime no Brasil. NĂŁo entro, sequer, no mĂ©rito da ideologização polĂtica da ação, assunto complexo que nĂŁo quero abordar por aqui. Me restrinjo unicamente ao fato de que a PRF â inteira – Ă© indispensĂĄvel no combate aos delitos de trĂąnsito rodoviĂĄrio e nĂŁo podemos perder nem um pedaço nela.
O que mais doeu nestas Ășltimas semanas foi ver nĂŁo apenas um resultado amargo para a PRF mas principalmente a deterioração do seu nome, da sua imagem. As Ășltimas operaçÔes desastrosas mancharam forte a imagem da corporação. Quem trabalha com comunicação sabe muito bem que, para fortalecer a imagem de uma instituição, Ă© preciso um forte trabalho durante muitos anos mas para perder a reputação basta uma simples fraquejada. E esta nĂŁo foi âsimplesâ.
O MinistĂ©rio PĂșblico Federal estĂĄ intercedendo para que a PRF seja proibida de atuar fora de sua ĂĄrea natural de operaçÔes, o policiamento rodoviĂĄrio. Sabemos, contudo, que esta serĂĄ uma batalha difĂcil de vencer pois as condiçÔes que levaram a PRF a sair da sua estrada natural tĂȘm outras implicaçÔes. SerĂĄ preciso que a classe polĂtica, diante da gravidade do problema, se una para colocar um basta neste desvio de caminho da PRF. Parece difĂcil imaginar uma ação polĂtica deste porte hĂĄ poucos meses das eleiçÔes.
Pelo que se divulgou durante a semana, jĂĄ no Ășltimo curso de formação de mais de 1.000 agentes da PRF, nĂŁo havia mais as disciplinas de educação para o trĂąnsito, direitos humanos nem Ă©tica, o que pode indicar de maneira clara uma nova direção. Por isto Ă© essencial exigir com todas as forças o retorno da PRF ao seu caminho tradicional.
O trĂąnsito brasileiro jĂĄ tem problemas demais para se envolver em mais um desta proporção. O Brasil tem praticamente tudo o que precisa para chegar a 2030 com condiçÔes de atingir as metas da ONU/OMS de reduzir em 50% o nĂșmero de fatalidades no trĂąnsito. Temos gente qualificada para tocar um programa bem sucedido de açÔes; Se tivermos um bom plano e uma boa equipe, os recursos aparecerĂŁo. Falta-nos, como sempre soubemos, vontade polĂtica para agir. Agora, pelo jeito, teremos mais um desafio: enfrentar quem tambĂ©m estĂĄ jogando contra. Jogo bruto e cruel.
J. Pedro CorrĂȘa – Consultor em programas de segurança no trĂąnsito
jpedro@jpccommunication.com.br
2 comentĂĄrios
Essa visĂŁo de tirar a PRF da sua missĂŁo constitucional de realizar o patrulhamento ostensivo das rodovias e estradas federais, jĂĄ vem de algum tempo, vejo que a PRF deveria se voltar para a sua missĂŁo constitucional e, melhorar a fiscalização do trĂąnsito nas rodovias, bem como tambĂ©m, dos crimes e descaminho cometidos em sua circunscrição. Criminosos, crimes, armas, drogas seram sempre fragados em seu trabalho de fiscalização do trĂąnsito. AlĂ©m de contribuir muito no combate Ă diminuição do nĂșmero de acidentes e vĂtimas do trĂąnsito.
A PRF Ă© uma instituição fundamental para a seguranca pĂșblica do paĂs. Os caminhoneiros que o digam quando sĂŁo abordados pelas outras corporaçÔes