ArtigosCaminhõesDestaquesNotíciasNotícias

Artigo – Crimes intocáveis, por Tércio Baggio

A imagem acima mostra a velocidade máxima atingida por um veículo que na BR-163 em Campo Grande, atingiu 147 Km\h em algum momento anterior à abordagem.

“Nem é tanto”, alguém poderia dizer. A PRF já fez flagrantes de velocidades acima de 200 Km\h. Verdade. Só que o detalhe aqui: Não se trata da velocidade de UM veículo, mas sim de QUATRO, unidos num conjunto que se denomina popularmente por rodotrem.

A foto é do equipamento “tacógrafo”, que faz o registro inalterável da velocidade desenvolvida, em função do tempo, por todo o conjunto. Uma espécie de caixa-preta do grupo de veículos composto por caminhão-trator, dois reboques e uma dolly (plataforma veicular para ligação de reboques).

O conjunto transporta cargas de 50 toneladas e o peso bruto total (carga + veículo) atinge 74 toneladas. Isso, claro, presumindo que não esteja em excesso de peso. (infração bem comum de se observar quando se dispõe de uma balança para fiscalização).

Para se ter uma ideia do que representa isso, um avião comercial Airbus A320, pousa com peso semelhante, e precisa de 1,5 quilômetro para parar. É certo que a velocidade da aeronave é bem maior, durante o pouso (cerca de 250km/h), mas tem a seu favor freios feitos para suportar altíssimas temperaturas e o apoio de resistência de reversos e outras estruturas aerodinâmicas que lhe permitem parar nessa distância.

Se considerarmos as necessidades aqui do trânsito e de nossas rodovias, raramente há mais de 100 metros pra sair de uma situação surpresa que apareça à frente.

Conversando e mostrando essa imagem para outros bons motoristas de rodotrem que também foram abordados (exibindo tacógrafos com registro de velocidade dentro do permitido) foram taxativos quanto à possibilidade de parar nesse velocidade.

“Não tem como parar nessa velocidade. Impossível, Ficará dependendo de enormes distâncias na qual o freio possa esfriar“, disse um deles.

Então, assim estamos: dirigindo nossos veículos de passeio contra “Airbus A320s” que não podem parar.

E qual seria a solução para algo tão grave? Um caminho viável, seria alterar a legislação para permitir a multa de velocidade baseada no tacógrafo, afinal, é um equipamento universalmente utilizado e conta com obrigação de ser aferido pelo Inmetro a cada 2 anos.

E sobre os radares? Já não temos um equipamento para esse fim de aferir velocidades? Bem. Posso dizer que são bem pouco eficientes para aferir velocidade de caminhões, pois seus motoristas possuem uma forte rede de informação composta de rádios PX , aplicativos, além da famosa infração de “sinais de luz pra avisar da fiscalização” para escapar da punição.

Em qualquer país sério, motorista de caminhão com essa velocidade sentaria na frente de um juiz e teria sua CNH suspensa ou caçada de forma célere. No Brasil, a PRF vê a infração e libera sem poder fazer algo concreto, a não ser, claro, quando ele já causou o acidente e o tacógrafo evolui, de mero registro, para prova criminal em um homicídio no trânsito que não se conseguiu evitar em fiscalização.

No Brasil é assim. A tragédia é anunciada aos quatro ventos, mas só se faz algo após sua materialização.

Artigo de Tercio Baggio, policial rodoviário federal há 24 anos, e atua no Mato Grosso do Sul

Rafael Brusque - Blog do Caminhoneiro

Nascido e criado na margem de uma importante rodovia paranaense, apaixonado por caminhões e por tudo movido a diesel.

2 thoughts on “Artigo – Crimes intocáveis, por Tércio Baggio

  • Falou professor pardal….. sabe tudo…. VC deve ser professor da NASA….. segurança e normas pra salvar vidas não existe lugar ou estado,a função de motorista que segue regras é salva vidas e não ser causador de tragédias… pelo que vejo cérebro deveria ser item obrigatório para pessoas e não opcional para pessoas como você…. sua tese que defende é algo simplesmente suicida….

    Resposta
  • Dimas do Nascimento

    Um caminhão com esta composição, nesta velocidade, no meio do nada, seria muito menos perigoso que a 80km/h, na Dutra, na região da grande São Paulo, em horário de rush, quando não consegue guardar distancias adequadas, por exemplo. O problema maior não é a velocidade, é onde e como ela é manuseada. No caso da culpa ser exclusivamente em função do excesso de velocidade, em caso de acidente, reclusão é um pena adequada. O que também presenciamos, são “pés de breque” parando na pista de rolamento da rodovia, conversões proibidas e inconsequentes, imputando a velocidade do caminhão como o problema principal para acidentes e não a inabilidade de muitos para conduzir um veículo.

    Resposta

Deixe um comentário!

Consumo do Tesla Semi surpreende Conheça as oito personalidades da Ford F-150 Conheça o Ford Thorco – O caminhão de dois motores Conheça 8 dicas para evitar quebras no seu caminhão Conheça as cores preferidas dos caminhões DAF