Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

HISTÓRIA DA ESTRADA – Batalhas De Um Carreteiro

Acordo e levanto bem cedo.
Tomo um café e parto logo.
Encaro a estrada sem medo.
Pela minha proteção à Deus rogo.

A cada dia uma nova batalha.
Lutar pelo pão eu preciso.
Ando veloz, dirijo no fio da navalha.
Carreta de vinte e duas rodas dirijo.

Sinto prazer no que faço.
Conheço da estrada, os riscos.
Manter o controle tem de ser bom de braço.
Carros velozes me ultrapassam, ariscos.

Se a carga é leve, mas muito alta.
Preciso manter o equilíbrio na pista.
Carga pesada, de potência, não há falta.
Pela janela admiro uma bela vista.

Se a chuva cai e o asfalto fica liso.
Minha atenção eu redobro.
Dirigir com atenção é preciso.
Ao fazer transporte, preço justo eu cobro.

O meu trabalho tem valor.
No que faço eu ponho o preço.
Ninguém quantifica meu trabalho não senhor.
Receber o pagamento justo, mereço.

Não podia comprar caminhão zero.
Valor muito alto, ficaria endividado.
Hoje, caminhão novo não mais quero.
Meu estradeiro antigo da conta do recado.

O que um cavalo zerado faz.
Tenho certeza que o meu consegue.
Respeito limite de peso no leva-e-traz.
Difícil outro estradeiro que me pegue.

Modelo quinze e vinte, ano setenta.
Mercedes Benz, cavalo mecânico.
Puxar vinte toneladas, ele aguenta.
Em outros estradeiros causo pânico.

Quando a marcha eu engato.
O pé no acelerador cola no assoalho.
É só motorista tirando estradeiro para o mato.
O caminhão é antigo mas dá trabalho.

Com dois ou três eixos, semirreboque puxo.
O Mercedes Benz é um bruto qualificado.
Cabine é rústica, não preciso de muito luxo.
Trota vigoroso meu cavalo trucado.

Quando comprei esse caminhão.
Já tinha rodado muito pelo Brasil.
Dei nele um trato, cuidei da manutenção.
Cabine pintada de azul anil.

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Outros motoristas, por curiosidade.
Olham a bordo e levam um susto.
Duas alavancas, precisa de habilidade.
Na rotação do motor, o engate é justo.

A alavanca na coluna de direção.
Reduz o bruto lá no diferencial.
Multiplica a força do caminhão.
Encarar subidas íngremes para ele normal.

Cada vez que um frete eu recebo.
Mando o dinheiro na conta da patroa.
Para economizar na estrada, nem cerveja bebo.
Não sou de gastar dinheiro à toa.

Pago financiamento da casa.
TV a cabo e conexão de internet.
Contas de água e luz é coisa que não atrasa.
No mês, preciso fazer muito frete.

De estar em casa no fim de semana.
É uma coisa que não abro mão.
Família unida é coisa bacana.
Juntos à mesa fazemos a refeição.

À noite levo a esposa para jantar.
Crio o clima e mando os filhos para os avós.
Ao chegar em casa, começamos a namorar.
Amor gostoso acontece entre nós.

O domingo passa bem depressa.
Passear com os filhos, doce compromisso.
Pescamos, jogamos, nos divertimos à beça.
Estar presente sempre que posso ser pai é isso.

A noite de domingo para segunda.
Eu e a mulher dormimos abraçados.
Enterro a saudade bem funda.
Deixo mesa pronta, café e leite preparados.

Antes do sol nascer eu já saio.
Somente o canto dos pássaros escuto.
Nas armadilhas da vida eu não caio.
Sou bicho do mato, mas um homem astuto.

O ronco encorpado do motor.
Pelos escapamentos saindo negra fumaça.
Pé direito afundado no acelerador.
Do caminhão da frente saio à caça.

Scania, Volvo, DAF, MAN ou Iveco.
Coloco todos eles no bolso.
Ao ultrapassa-los, motoristas tem um treco.
Não acreditam no potencial desse moço.

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Como pode um cavalo antigo.
Ter fôlego de sobra para correr?
Esse segredo, a tempos tenho mantido.
Mas o leitor, esse segredo vai saber.

O motor que fica embaixo da cabina.
É um moderníssimo engenho.
De força e potência, verdadeira usina.
É isso que garante inigualável desempenho.

Quem vê do lado de fora a antiga casca.
Não imagina que o recheio é inovador.
Quando acelero esse Mercedes, sai lasca.
Sei extrair toda a potência desse propulsor.

Mais vale modernizar o velho.
Do que tentar comprar um novo.
Com caminhões potentes emparelho.
Deixo-os para trás como um estorvo.

Quem pensa que meu cavalo é um pangaré.
Que na estrada é lento e pesado fardo.
Não sou segura fila como Scania jacaré.
Meu Mercedes Benz é veloz como um leopardo.

Quando digo que a amo.
Não é só pelo seu corpo escultural
De amor e paixão por ti, me inflamo.
Você é exemplo da mulher ideal.

As curvas perfeitas de sua silhueta.
Pinceladas celestiais desenharam você.
Tens a leveza de uma borboleta.
Transmite tanta suavidade em quem a vê.

Vento suave soprando em um dia quente.
Ar vivificante que respiro e me embriago.
Nuvem que passa e segue em frente.
Encanto seu faz em meu coração um afago.

Seu olhar de mulher, doce e sereno.
Seriedade que vejo em seu olhar de menina.
Aroma de flores, perfume ameno.
Te amar pela eternidade, minha sina.

Quando você sorri tudo se ilumina.
É como o sol que desponta em dia nublado.
Ouvir sua voz doce me fascina.
Seus olhos me deixam hipnotizado.

Autor: Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

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