Volkswagen com cabine MAN? Isso é comum na indústria de transportes
Nessa semana a Volkswagen apresentou a nova linha Meteor. Dois modelos extrapesados, com motores de 13 litros e versões 6×2 e 6×4, com potências de 460 e 520 cavalos. Mas o que chamou a atenção de muita gente foi a cabine. A base dela é a mesma da cabine que equipa os modelos MAN TGX, vendidos no Brasil. Elas tem dianteiras diferentes, mas as laterais praticamente iguais.
O que muita gente não sabe é que muitas montadoras dividem projetos de cabines entre si, inclusive entre marcas que não são das mesmas donas.
A própria cabine MAN usada no TGX e no Meteor é vendida em outros mercados, com outros designs da grade frontal e faróis, como é o caso dos modelos Sitrak, vendidos na China em uma joint-venture entre a MAN e a Sinotruk. Outro modelo chinês com cabine MAN é o SHACMAN Xuandeyi.
E não é só a MAN que tem sua cabine em outros modelos. Quer conhecer uma cabine coringa, usada no mundo todo? A cabine Renault que equipa o modelo Volvo VM no Brasil. Desenvolvida pela Renault, equipa o nosso VM, a versão anterior do DAF LF, e até modelos Peterbilt nos Estados Unidos, inclusive o novo 220EV, totalmente elétrico, recém lançado pela marca para o mercado norte-americano.
A cabine de modelos Mercedes-Benz brasileiros, como a que equipava os modelos L-1620 e Atron, também esteve em modelos Freightliner, como o modelo FL70, vendido na década de 1990 nos Estados Unidos. Outra marca que usa cabines MB é a BharatBenz, na Índia, que usa cabines dos modelos Axor e Atego europeus para equipar seus caminhões.
Kamaz, na Rússia, também usa cabines da Mercedes, como a cabine do Axor, que equipa o Kamaz 5490, e o Kamaz 54901, top de linha da marca russa que usa a cabine do Novo Actros. A parceria é fruto de uma joint venture entre as montadoras.
A cabine que equipou no Brasil os modelos Ford Cargo 2042 e 2842 foi desenvolvida pela montadora turca Otosan, que produz caminhões Ford na Turquia. Essa cabine veio da Turquia para o Brasil, foi para a China com o modelo JMC Veyron e o JMC Weilong, e agora está sendo usada no desenvolvimento do modelo Hyzon FCEV, movido a hidrogênio, na Europa.
Outra cabine coringa, que equipou uma infinidade de caminhões no Brasil e no mundo é aquela lançada pela Volkswagen em 1981, com os modelos 6.80, 11.130 e 13.130, que ficou em produção no Brasil até 2017, com os modelos Delivery.
Essa mesma cabine Volkswagen foi usada por modelos MAN na Europa e também Peterbilt e Kenworth nos Estados Unidos.
Outro modelo licenciado é o novíssimo Iveco S-Way, que servirá de base para a produção do modelo Nikola Tre, movido a hidrogênio. Apesar de usarem exatamente a mesma cabine, as linhas do Nikola são muito mais futuristas.
Esses são apenas alguns exemplos de uma infinidade que existem de uso licenciado de cabines desenvolvidas por uma montadora para outras marcas, com mudanças pontuais ou um redesign completo.
Por que isso ocorre?
Ter um design exclusivo é parte de um valor gigantesco investido pelas montadoras para que seus modelos possam ter sua própria identidade e serem reconhecidos pelos seus traços próprios.
Essa troca de cabines entre as montadoras ocorre principalmente para reduzir o tempo de desenvolvimento dos produtos e o montante investido para lançamento de um novo modelo.
A cabine é um dos itens mais caros e onde se é gasto uma boa fatia do tempo de desenvolvimento de um novo modelo, já que precisa ser desenvolvida com um grande conjunto de sistemas que funcionem junto.
Então, quando uma montadora compra os direitos de uso de um cabine pronta, reduz o tempo de desenvolvimento drasticamente, e os custos caem muito, tanto no desenvolvimento quanto na produção do produto, com redução de custos para os clientes.
Com o uso de uma cabine MAN num produto Volkswagen, além da montadora passar a atuar com sua marca em um segmento que não atuava, dá aos clientes a possibilidade de escolher o modelo que mais se adapta para sua operação.
E as cópias não autorizadas?
Outro uso de design é o de cópias não autorizadas de modelos consagrados em outros mercados, que acabam tendo suas linhas copiadas por outras montadoras, principalmente da Ásia.
É o caso da JAC Motors com os caminhões Gallop com design “baseado” na Série 4 da Scania. Outro modelo chinês inspirado em outro caminhão é o Chenglong T7 450, com linhas muito próximas às do Freightliner Cascadia.
Depois de apresentados no mercado chinês, cabe às montadoras tentarem processar as empresas asiáticas que copiaram seu design, mas nem sempre tendo sucesso.
Rafael Brusque – Blog do Caminhoneiro