A DOR DA PARTIDA E A ALEGRIA DA CHEGADA – Mercedes Benz L 1113
O marido sai de casa e vai até o portão.
Em uma das mãos leva sua mala.
Coloca-a dentro de seu caminhão.
Filho chora e a esposa resignada se cala.
O filho não quer que o pai vá embora.
Por isso soluça antecipando a ausência.
Pobre criança, quer seu pai, por isso chora.
A mãe pede ao garoto que tenha paciência.
O caminhoneiro se faz de forte.
Mas parte seu coração aquela cena.
Do Brasil é um herói do transporte.
De seu filhinho querido sente pena.
A bordo do Mercedes Benz muriçoca.
Leva na carroceria uma pesada carga.
Nas mãos de Deus sua vida ele coloca.
No coração a saudade é sofrida e amarga.
O Mercedes onze e treze é seu companheiro.
É com ele que garante da família o sustento.
Diferencial longo, o bruto é bom estradeiro.
No retrovisor, leva medalha de São Bento.
Dirige a noite inteira até o destino.
O cansaço e o sono causam desgaste.
Tudo que faz é pela esposa e pelo menino.
De sua família não há quem o afaste.
Precisa de algumas horas de sono.
Não consegue prosseguir sequer mais um metro.
O banco transformado em sofá-cama é seu trono.
Rei da estrada faz da alavanca de câmbio seu cetro.
Enquanto dorme, alguém bate em sua porta.
Ele não liga, precisa dormir para continuar a luta.
Quem está lá fora, para ele não importa.
Querendo vender o corpo, alguma prostituta.
Não vai trocar uma vida de amor e dedicação
Por algumas horas de sexo e algum prazer.
Não transformará em motel seu caminhão.
É fiel à aquela com quem escolheu viver.
Falando ao telefone, a saudade ameniza.
Do outro lado da linha, o filho implora.
Fala que quer seu pai perto e dele precisa.
Ao telefone, é o caminhoneiro quem chora.
Após quinze dias distante dos seus,
Retorna finalmente para sua casa.
Pede para a família a proteção de Deus.
A expectativa do reencontro ao coração abrasa.
Vê ao longe um menino que brinca na rua.
Distraído, puxa um caminhãozinho de brinquedo.
Aquela criança e a maior alegria sua.
A buzina ressoa a um toque de seu dedo.
A criança olha assustada e surpresa.
Ao ver aquele caminhão, abre um sorriso.
Vem correndo, é seu pai, ela tem certeza.
Para o caminhoneiro, a família é seu paraíso.
Levanta aquele menino do solo.
Aconchega-o em um amoroso abraço.
Carrega seu filhinho amado no colo.
Amor entre eles é um forte laço.
Sua mulher vem a seu encontro também.
Um abraço e um beijo, que cheiro bom.
Uma surpresa para ela, na mão ele tem.
Estojo de maquiagem, pinceis e o batom.
Para o filho traz uma saltitante bola.
O garoto não se cabe de contentamento.
Após o jantar, ele pega no armário a viola.
Canta a felicidade daquele momento.
Para o filho conta belas histórias do trecho.
O garotinho dorme, cansado, mas contente.
Lá fora repousa seu caminhão com terceiro eixo.
Tem orgulho daquele estradeiro valente.
Uma noite de amor é vivida pelo casal.
Entrega plena de alma e de coração.
Saciados após se entregarem ao desejo carnal.
Após nove meses o menino ganhou um irmão.
Autor: Roberto Dias Alvares
Uma história que retrata a saudade da partida e a alegria da volta.