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Carreta arqueada com mais de três metros de altura é exibida nas redes sociais

Lugar de ostentação de viagens, lugares e pessoas, as redes sociais também trazem diversos influencers mostrando seus veículos, com os carros e as modificações que realizam. Isso não tem sido diferente com os caminhões.

São diversas páginas que trazem caminhões com diversas alterações, algumas inclusive sendo proibidas pela legislação atual. É o caso de um caminhão Volkswagen Constellation 19.320 azul, de propriedade do influenciador digital Nelio Dgrazi. O caminhão, totalmente personalizado, já havia sido colocado em um sorteio pelo influenciador, realizado em maio, mas o ganhador levou uma picape no lugar do caminhão.

Para a Volvo, se houvessem vantagens nos caminhões arqueados, eles sairiam assim de fábrica

Depois disso, o Volkswagen continuou sendo mostrado nas redes sociais, e mais recentemente recebeu uma carreta de dois eixos, do tipo vanderleia, com a suspensão totalmente modificada.

Em postagens nas redes sociais, são mostradas as modificações realizadas no implemento, que recebeu 60 molas na suspensão do último eixo, o que fez a traseira da carroceria ser levantada em mais de 3 metros.

As fotos e vídeos mostram que é possível entrar sob o chassi do implemento sem problemas. O parachoque da carreta também foi alterado, ficando muito mais longo que o original.

Efeito guilhotina é ampliado em caminhões arqueados

Nas redes sociais, se diz que o caminhão será usado apenas para passeios e não vai ser carregado, o que se tornaria praticamente inviável, devido à altura da carroceria.

Especialistas de montadoras e engenheiros condenam essas modificações

Para grandes nomes envolvidos em projetos de veículos e no desenvolvimento das legislações de trânsito, a utilização de caminhões totalmente modificados, como nesse caso, é condenável.

Além de diversos problemas a componentes, por conta da alteração da distribuição da carga sobre os eixos, comprometendo a suspensão, freios e gerando mais vibração, os caminhões arqueados ainda sofrem com a elevação do centro de gravidade, o que pode levar a tombamentos com maior facilidade.

“Se existisse vantagem, temos certeza que teríamos caminhões sendo projetados e fabricados desta forma. Elevar a traseira eleva o Centro de Gravidade (CG) do veículo. CG mais alto piora estabilidade. Não conhecemos nenhuma marca no mundo que tenha lançado caminhões com a traseira elevada de fábrica”, afirmou Jeseniel Valerio, Gerente de Engenharia de Vendas da Volvo do Brasil.

A legislação atual permite alterações na suspensão dos veículos pesados, desde que respeitem o limite de 2º de inclinação, ou 3,5 cm por metro de longarina do chassi. A Resolução Nº 479/2014 do Contran, que trata desse tema, também impede a alteração da suspensão do eixo dianteiro, proibindo que o primeiro eixo seja rebaixado.

Rubem Penteado de Mello, Engenheiro Mecânico, Mestre em Engenharia Mecânica, Doutor em engenharia mecânica, Consultor e Instrutor, com mais de 30 anos de experiência na área de segurança viária, especialista no comportamento dinâmico de veículos e sua interação com o condutor, amarração e distribuição de cargas, segurança veicular e perícia em acidentes de trânsito, diz que as alterações, além de proibidas, podem fazer a carga adernar sobre a cabine, comprometendo a dirigibilidade, frenagem e até a segurança dos ocupantes, em caso de acidente.

Projeto de lei que proibir “traseira arqueada” em caminhões no Brasil

A Deputada Federal Christiane de Souza Yared (PP/PR), apresentou na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 822/2022, que quer proibir a alteração de características da suspensão de caminhões e ônibus. O texto visa especificamente coibir a prática de modificação conhecida como traseira arqueada, onde são instalados calços ou mais lâminas na suspensão de caminhões, elevando a altura do chassi sobre os eixos traseiros.

O Projeto de Lei, se aprovado, vai alterar o Artigo 230 do Código de Trânsito Brasileiro, dizendo que se houver alteração na suspensão ou eixos de caminhões ou ônibus, o motorista receberá multa gravíssima, com 7 pontos na CNH, e valor de 10 vezes sobre o normal da multa gravíssima, atualmente em R$ 293,47, o que totalizaria quase R$ 3.000,00, além da remoção do veículo para pátio credenciado e retenção até sua regularização.

Na justificativa do projeto, a Deputada destaca que os setores de engenharia de grandes montadoras de caminhões, como Scania e Volvo, já se posicionaram contrárias a essas alterações, que alteram significativamente o centro de gravidade dos veículos, sobrecarregando componentes e prejudicando sistemas dos veículos, além de colocar em risco a segurança do motorista, passageiro e outros usuários das rodovias.

“Os órgãos de fiscalização e diversos especialistas em segurança viária já alertam para os riscos que tais condutas podem causar e que já causaram à segurança. Dito isso, a legislação atual já prevê uma multa para esse tipo de conduta, porém, o valor da penalidade é irrisório se comparados aos custos de alteração e os riscos trazidos. Dessa forma, a alteração da legislação no sentido de ampliar as penalidades para esse tipo de prática perigosa é medida que deve ser aprovada por este Legislativo”, disse a Deputada, na justificativa do projeto.

Rafael Brusque - Blog do Caminhoneiro

Nascido e criado na margem de uma importante rodovia paranaense, apaixonado por caminhões e por tudo movido a diesel.