Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

HISTÓRIA DA ESTRADA – ANDANDO EM COMBOIO

Eram cargas com hora marcada.
Carregamentos variados para o exterior.
Oito caminhões em corrida desabalada.
Ao longe, se ouve ronco forte de motor.

À frente desse grupo de carreteiros.
Jonas, competente e conquistador.
O seu era um dos mais belos estradeiros.
Dava ao seu cavalo mecânico muito valor.

Mercedes Benz quinze e vinte.
Mil novecentos e setenta, ano de fabricação.
Terceiro eixo e na cabina todo requinte.
De todos, o mais bem equipado caminhão.

Euclides, carreteiro experiente.
Também homem de muita fé.
Na estrada, estava sempre sorridente.
Dirigia Scania Vabis, o famoso jacaré.

Salvador, sua idade passava de cinquenta.
Conhecia todos os caminhos desse país.
Ao volante do Fiat cento e noventa.
Mais um carreteiro que se sentia feliz.

Ulisses e seu Volvo N dez.
Caminhão que alia força e resistência.
Trocando marchas, hábil com as mãos e pés.
Sabia usar do motor toda a potência.

Severino e seu Scania LK laranja.
Pensa em um caminhão alinhado.
Conforto na cabina esbanja.
Bonito cavalo mecânico trucado.

Deusdete no Mercedes dezenove vinte e nove.
Outro caminhão que respeito impunha.
Andando bem com sol ou se chove.
De sua resistência, não vai faltar testemunha.

O GMC Marítimo do Moacir.
Que ronco gostoso daquele motor.
Caminhão que encarava bem o ir e vir.
Detroit dois tempos era o propulsor.

Ford FT oito mil e quinhentos, bruto raro.
Quem pilotava essa máquina era o Salazar.
Bons freios serviam de anteparo.
Do lado externo, o grande filtro de ar.

O final de ano se avizinhava.
O ritmo da estrada era frenético.
Aquele comboio, velozmente avançava.
Em cada um, o amor pela estrada era genético.

O destino, cidade portuária.
Cada carga embarcada em um navio.
Conexão de transporte com malha rodoviária.
Porto ficava na desembocadura de um rio.

Aquele comboio de oito caminhões.
Avançava devorando os quilômetros.
Dos escapamentos saiam fogo, igual dragões.
Todos tinham mais de seis dígitos nos hodômetros.

Em cada parada para descanso.
Aquele grupo de homens era atração.
Dia seguinte, partiam em rápido avanço.
Difícil dizer qual o mais bonito caminhão.

Quem liderava esse comboio.
Era o Mercedes Benz do Jonas.
Logo à frente, parada servia de coio.
Facínoras escondidos atrás de lonas.

Os carreteiros parariam nesse lugar.
Não sabiam que ali era verdadeiro covil.
Aqueles homens iriam se superar.
Lutariam contra criminalidade cruel e vil.

As oito carretas bem carregadas
Tomaram conta do estacionamento.
Os carreteiros precisavam fazer paradas.
Pois o cansaço era um tormento.

Ao descerem para tomar um bom café.
Criminosos sem chamarem a atenção.
Desonestos, agindo de má-fé.
Quadrilha especializada em roubar caminhão.

Enquanto faziam um lanche.
Se aproveitaram da situação os meliantes.
Queriam tirar proveito daquela chance.
Levar alguns caminhões o quanto antes.

Ao chegarem no estacionamento.
Scania LK, Vabis e Volvo roubados.
Severino, Ulisses e Euclides, desapontamento.
Com aquele roubo, estavam inconformados.

Avisaram a polícia e saíram atrás.
Bandidos não deviam estar distantes.
As cargas valiam dinheiro demais.
Não iriam dar mole para assaltantes.

Polícia demorando a chegar.
Nunca vinham quando era preciso.
Criminosos agiam sem se preocupar.
Roubavam sem deixar aviso.

Ainda no posto havia um frentista.
Disse que sabia quem eram os ladrões.
Propriedade rural do fazendeiro Batista.
Para lá eram levados os caminhões.

A cidade inteira sabia disso.
A polícia recebia propina.
Não se envolveriam nisso.
Gente ruim com índole assassina.

Os carreteiros eram amigos.
Não partiriam sem os caminhões.
Sabiam que enfrentariam perigos.
Não sabiam o que os esperavam os ladrões.

Jonas era o líder, naturalmente.
Por sua coragem, um dos mais respeitados.
Queriam recuperar os caminhões somente.
Todos eles estavam armados.

Os riscos de viver na estrada.
Precisavam ter armas para proteção.
Bandidos não temiam quase nada.
Matavam para roubar caminhão.

Nos cinco caminhões restantes.
Oito carreteiros determinados.
Companheiros e viajantes.
Não seriam por ninguém enganados.

Seguiram por uma estrada de terra batida.
Em direção à uma grande fazenda.
Naquele local poriam em risco a vida.
Para resgatar as fontes de sua renda.

Logo à frente havia uma porteira.
Jonas nem se preocupou em abrir.
Jogou-a ao chão, seguiu em primeira.
Atrás do Mercedes, os demais vieram a seguir.

Viram um dos caminhões ali estacionados.
Os outros deveriam estar dentro dos galpões.
Os carreteiros mantinham os brutos acelerados.
Eles eram os mocinhos contra perigosos vilões.

Logo aquele grupo famigerado de ladrões.
Vieram a entrada, ouvindo barulhos.
Viram aqueles poderosos caminhões.
Transformar galpão em monte de entulhos.

Quando pensaram em puxar suas armas.
Carreteiros disparavam os Taurus quarenta e quatro.
Bandidos enfrentariam seus carmas.
A propriedade, de guerra, virou teatro.

Os caminhões avançando por todos os lados.
Causaram nos bandidos, verdadeiro pânico.
Fazendeiro e seus capangas cercados.
Contra eles, avançava exército titânico.

Cinco cavalos mecânicos, era possível vê-los.
Em alta velocidade vinham fechando o cerco.
Com carretas, bandidos teriam pesadelos.
Criminosos estavam no maior aperto.

Batista, o dono daquela propriedade.
Em gente de bem causava, nojo, asco.
Grande criador de gado na realidade.
Possuía imensa plantação de churrasco.

Mesmo assim cedeu ao crime organizado.
Com perigosa quadrilha fez acordo.
De cada caminhão que era roubado.
Recebia montante de dinheiro bem gordo.

Desta vez mexeram com pessoas erradas.
Aqueles carreteiros nunca foram santos.
Já tinham passado por situações inusitadas.
Aventuras vividas no Brasil, em todos os cantos.

Alguns tiros atingiram os caminhões.
Contudo, os brutos causaram mais estragos.
Foram destruídos vários galpões.
Nas frágeis paredes, verdadeiros rasgos.

O Mercedes do Jonas era resistente.
O GMC e o Fiat pareciam uma rocha.
Alguns criminosos feridos gravemente.
Essa turma de carreteiros não afrouxa.

Os carreteiros eram bons de mira.
Seus disparos eram sempre certeiros.
Não daria para saber quem melhor atira.
Baleados aqueles desordeiros.

O único que escapou ileso.
Batista não foi atingido por disparo.
Contudo, não deixaria de ser preso.
Por mexer com gente de bem pagaria caro.

Os bandidos tombados no chão.
Dois deles jaziam já sem vida.
Pagamento caro por ser ladrão.
Quem intimidava, agora se intimida.

Quando acabou aquele tumulto.
Na mira de arma, Batista fazia ameaça.
Mesmo rendido, proferia insulto.
Não aceitava que, de caçador virara caça.

Quando sentiu na boca um cano gelado.
Viu que carreteiros não estavam brincando.
Não ameaçava, era ameaçado.
Onde estavam os caminhões foi falando.

Escondidos no meio da floresta.
Dois cavalos mecânicos foram deixados.
A esses honestos homens nada mais resta.
Partir com seus semirreboques carregados.

Fazendeiro foi amarrado.
Pensou que se ficasse vivo já era lucro.
Pelos carreteiros, foi amansado.
Acabou domado como burro xucro.

Os carreteiros partiram daquele lugar.
À polícia não iam dar satisfação.
Nada fizeram para os ajudar.
Estavam envolvidos pela corrupção.

As oito carretas partiram velozes.
Já haviam perdido tempo demais.
Os cavalos mecânicos rugiam ferozes.
Ninguém os detinha no leva-e-traz.

Avançou até o destino aquele comboio.
Entrega no prazo, o que todo mundo almeja.
No restaurante comeram carne no shoyu.
E para matar a sede, gostosa cerveja.

Essa é a história dos oito carreteiros.
Seus feitos na estrada viraram lenda.
Corajosos e valentes brasileiros.
Batista ainda lembra o que fizeram na fazenda.

Roberto Dias Alvares

Rafael Brusque - Blog do Caminhoneiro

Nascido e criado na margem de uma importante rodovia paranaense, apaixonado por caminhões e por tudo movido a diesel.

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