Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

História da Estrada – VIM TE BUSCAR

Após viajar a semana inteira.
Retorno com o coração em festa.
Namoro a mais linda mulher brasileira.
Fruto de nosso amor, seu ventre gesta.

Quando me contou da gravidez.
Parecia preocupada com minha reação.
Disse-lhe: “É um presente para nós que Deus fez”.
Percebi que ela sorriu e acalmou o coração.

Sua barriga ainda não aparece.
Ela se preocupa com a aparência.
Com o tempo, o ventre cresce.
Leva nele um anjo puro de inocência.

Ela está na casa de seus pais.
Eles são contra vivermos juntos.
Dizem que ela é jovem demais.
Empecilhos eles colocam muitos.

Estou trabalhando bastante.
Para mim isso não é sacrifício.
Que ela seria minha mulher e amante.
Sabia quando a conheci desde o início.

Sou jovem, mas motorista raiz.
Não sofro com caixa seca, marchas eu cruzo.
Ao volante de um caminhão sou feliz.
Dirigindo caminhão antigo não me sinto intruso.

Isso que falo é um verdadeiro fato.
O meu estradeiro nada tem de moderno.
Fiat duzentos e dez, comprei ele barato.
Bruto resistente, um estradeiro eterno.

Apesar da aparência robusta.
Conforto a bordo, mão eu não abro.
Ter cama macia tão pouco me custa.
Na estrada o Fiat ronca grosso, é brabo.

Com terceiro eixo, aguenta mais peso.
O motor tem força e à carga arrasta.
Nos aclives, ao asfalto não está preso.
Dar um aperto no acelerador me basta.

Enquanto a gravidez se desenvolvia.
A bordo do meu cavalo eu dava meus pulos.
Trabalhava dia e noite, noite e dia.
Meus esforços não eram nulos.

Sem que minha princesa soubesse.
Preparava um cantinho para nós.
Assim, quando nosso bebê viesse.
Teria um lugar para ficarmos sós.

O Fiat duzentos e dez a tudo aguenta.
Bruto valente com mecânica rústica.
Às intempéries do tempo enfrenta.
Música a bordo excelente acústica.

Chegou finalmente o dia do parto.
Aguardei impaciente na recepção.
Fui junto quando a levaram ao quarto.
Nosso bebê não estava, grande decepção.

Foi para a Unidade de Terapia Intensiva.
Por grave doença ele foi acometido.
Nossa esperança permanecia bem viva.
Foi benção de Deus ele ter nascido.

Tive de voltar para a estrada.
Vontade era ficar com minha princesa.
Mas ficar no hospital não adiantaria nada.
Continuar trabalhando espantaria a tristeza.

Após sessenta longos dias de espera.
Nosso bebê finalmente recebeu alta.
Chamei o estradeiro na espora, mostrou ser fera.
A saudade ao meu coração assalta.

Cheguei dirigindo o cavalo apenas.
Minha amada trazia o bebê nos braços.
As coisas agora estavam mais amenas.
Ela caminhou até mim, lentos passos.

Ajudei-a a subir a bordo.
Com o bebê todos os cuidados.
Estávamos ambos ansiosos, concordo.
Ela e a criança na cama leito deitados.

Falei para ela solenemente.
Tendo o coração queimando como brasa.
“Agora seremos nós três somente”.
“Vim te buscar, vamos para nossa casa”.

Ela parecia não compreender.
Acreditava que seria levada aos pais.
Repeti para ela enfim entender.
“Vamos ser uma família e ninguém mais”.

“Vim te buscar, temos um lar”.
“Lá viveremos felizes com nosso amor”.
“Com meu caminhão, o mundo vamos conquistar”.
“Estarei a seu lado onde você estiver ou for”.

Roberto Dias Alvares

Rafael Brusque - Blog do Caminhoneiro

Nascido e criado na margem de uma importante rodovia paranaense, apaixonado por caminhões e por tudo movido a diesel.

One thought on “História da Estrada – VIM TE BUSCAR

  • ROBERTO DIAS ALVARES

    O sacrifício de um jovem carreteiro para dar uma vida digna à família recém formada

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