Ford Turbine Truck – Quando a Ford tentou mudar o jeito de fazer caminhões
A década de 1960 foi uma das que mais apresentaram avanços em tecnologias em todo o mundo. E como não podia ser diferente, também foi nessa época que o transporte de cargas quase foi completamente transformado. Na década de 1960, as três grandes montadoras dos Estados Unidos, Ford, GM e Chrysler, iniciaram testes com veículos com turbinas a gás no lugar dos tradicionais motores diesel ou gasolina.
A Chrysler iniciou o desenvolvimento de um carro, mas Ford e GM partiram para os caminhões. As turbinas a gás eram motores com alta potência, no caso do Ford 705, o Turbine Truck, chegava a 600 cavalos, algo muito acima das potências tradicionalmente usadas na época.
Ele foi apresentado em 1964, engatado em um rodotrem Fruehauf, podendo transportar até 77 toneladas de peso bruto total combinado, com velocidades de até 115 km/h.
Depois de ser apresentado, o modelo viajou por vários lugares dos Estados Unidos, para ser testado e para apresentar a tecnologia a potenciais interessados.
O caminhão, apelidado de Big Red, apresentava um novo patamar de conforto para o caminhoneiro, com cabine grande, de piso totalmente plano, com cama, sofá, TV, geladeira, forno, água com aquecimento, e até banheiro.
As portas se abriam ao toque de um botão, e a área envidraçada era excepcionalmente ampla, permitindo que o motorista enxergasse tudo ao redor do caminhão.
A Ford, durante as viagens, registrou o consumo de combustível de 100 litros por 100 km (1km/l de gás), tendo uma autonomia de até 1.000 km.
A Ford cogitou a produção em massa do modelo, mas os altos custos de produção para uma tecnologia totalmente nova, e muitas lei federais e estaduais inviabilizaram a produção. Com isso, os caminhões seguiram sendo tradicionalmente movidos à diesel com motores Ciclo Diesel até hoje.
E o protótipo?
Depois que a Ford encerrou os testes, o destino do veículo deveria ter sido a destruição. Esse é o fim normal para milhares de modelos de testes e protótipos, já que não havia interesse em se preservar o modelo para a posteridade.
Mas o Ford 705 teve sorte. Acabou sobrevivendo, sendo usado por uma equipe de corrida, que era patrocinada pela Ford. Após o fim do patrocínio, o caminhão ficou na posse da equipe Holman Moody, pelo menos até 1978, quando houve um feirão da equipe. Tudo foi colocado à venda. Motores, peças de carros, e o Big Red.
A história é bastante obscura, e não se sabe o que houve com o motor turbina original. Algumas pessoas disseram que a equipe instalou um motor V8 diesel no veículo.
Durante o feirão, o caminhão foi vendido à uma pessoa não identificada e sumiu. Por pelo menos 40 anos, pouca gente soube do paradeiro do veículo.
Agora, o jornalista norte-americano Peter Holderith, que buscava o caminhão há mais de 10 anos, parece ter achado pistas concretas do paradeiro do Big Red.
Aparentemente, o Big Red foi comprado por um tal de Sr. Richardson, de Greensboro, para uma coleção particular. Na época da compra, o caminhão havia sido pintado de azul e branco pela equipe de corrida, e somente nos anos de 1980 voltou à cor original.
Porém, tudo era feito em segredo pelo Sr. Richardson, que não gosta de aparecer. Depois que o proprietário faleceu, a coleção passou para o irmão dele, Thomas, e aparentemente, o veículo está na coleção de veículos dele na Carolina do Norte. Infelizmente, os reboques se perderam na história.
Apesar de saber onde o caminhão está, o jornalista Peter Holderith não divulgou o local, e vai tentar contato com o proprietário antes. Se algo como o Big Red ficou oculto por tantos anos por vontade do dono, talvez ainda deva permanecer assim.
Rafael Brusque – Blog do Caminhoneiro