Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

HISTÓRIA DA ESTRADA – O CARRETEIRO E A AEROMOÇA

Alaor não era um homem anônimo.
No transporte rodoviário, muito respeitado.
Motorista freelance, um autônomo.
Para qualquer caminhão estava preparado.

Se alguém precisasse de seu serviço.
Fosse transportadora ou uma fazenda.
No trabalho pesado não era omisso.
Vivia cheia de compromissos sua agenda.

Dirigia qualquer marca de caminhão.
Carretas, bitrens, caminhões trucks ou tocos
Guiava por prazer, mas sabia da obrigação.
Profissional do volante como poucos.

Sabia usar as redes sociais.
Para mostrar seu trabalho e competência.
Empresários e fazendeiros queriam o rapaz.
Fácil de lidar e de boa convivência.

Solteiro e descomprometido.
Seu trabalho não permitia fincar raízes.
Era um conquistador assumido.
Sabia deixar as mulheres felizes.

Foi contratado para ir ao Mato Grosso.
Dirigir cavalo comprado por fazendeiro.
Scania importado, verdadeiro colosso.
Moderno e bonito estradeiro.

Setecentos e setenta cavalos, a potência.
Custou grande soma de dinheiro.
Motoristas afoitos e sem paciência.
Não tinham a confiança do fazendeiro.

Precisava chegar bem rápido.
Por isso optou pelo avião.
Meio de transporte prático.
Viagem não teria emoção.

Ao adentrar a aeronave.
Viu bela mulher, aeromoça.
Disse-lhe “bom dia”, voz doce e suave.
A jovem parecia uma boneca de louça.

Aquela mulher roubava a cena.
Dona de uma beleza sem tamanho.
Um metro e oitenta, linda morena.
Olhos oscilando do verde ao castanho.

Esperou até o desembarque.
Foi o último a sair do avião.
Estava feliz como criança em um parque.
Entregou para a jovem um cartão.

A morena ouviu daquele rapaz bonito.
“Quero te levar para jantar”.
Leu no crachá o nome Tânia escrito.
Pediu para no número do cartão ligar.

A jovem olhou para ele espantada.
Jamais fora abordada daquele jeito.
Ele foi direto, não teve cantada.
Mas, quem seria aquele sujeito?

Alaor chegou na fazenda.
Scania estacionado ali perto.
Concessionária importou e pôs à venda.
Para necessidades de transporte, veículo certo.

Entrou a bordo do Scania europeu.
Controles escritos em língua inglesa.
Para Alaor, isso não comprometeu.
Dominaria aquela máquina com certeza.

De manhã logo cedo.
Manobrou aquele gigante.
De dirigi-lo não tinha medo.
Ele comandaria de agora em diante.

Pensava algumas vezes na aeromoça.
Certa noite descansava no Scania.
Na celular voz pedia: “Me ouça”.
Sou aeromoça e me chamo Tânia.

Alaor se lembrou daquela mulher.
Era linda, verdadeira obra de arte.
Para casar, o que qualquer homem quer.
Desfilar com ela para qualquer parte.

Conversaram e marcaram de se encontrar.
Ambos tinham apertada a agenda.
Ela estava a bordo de aviões a trabalhar.
Ele ficaria muito tempo naquela fazenda.

A oportunidade de se encontrarem surgiu.
Ele foi buscá-la com o Scania que dirigia.
O fazendeiro confiava tanto que permitiu.
Em restaurante, para jantar, Alaor a levaria.

Alaor deu toda atenção e foi correto.
Tânia mostrou firmeza e decência.
Ela pensava em relacionamento concreto.
De se casar ele não tinha urgência.

Cada um seguiu um caminho após o jantar.
Ela não se entregaria só por prazer.
Alaor voltou ao ritmo de transportar.
Era o que muito bem sabia fazer.

Conversavam por mensagem.
Cada um vivendo suas aventuras.
Ele de caminhão fazendo viagem.
Ela no avião, trabalhando nas alturas.

Os anos passaram e não se viam.
Mas o destino agiu na vida da menina.
Milhares de quilômetros entre eles existiam.
Ela saiu a trabalho em um voo de rotina.

O voo transcorria bem, tudo normal.
Faltava poucos quilômetros para aterrissar.
O avião passou a ter problema geral.
Pouso de emergência teria de realizar.

Tânia fora treinada para tal situação.
Na prática, as coisas não são iguais.
Nunca pensou que passaria por isso em avião.
Poderia não ver as pessoas que amava mais.

Enquanto o avião perdia altura.
Uma carreta passava ao lado de uma lagoa.
Alaor transportava semirreboque de verdura.
Ouvia música sertaneja da boa.

Qual não foi seu susto.
Vendo um avião pousar na lagoa.
Passou com a carreta sobre um arbusto.
Superfície da água coberta de taboa.

Para a tripulação e passageiros.
Foram difíceis momentos vividos.
Em muitos deles o maior dos desesperos.
Acharam que estavam perdidos.

O piloto mostrou muito sangue-frio.
Aterrissou na água, nariz do avião elevado.
Imensa onda naquela lagoa se viu.
Parecia gigantesco peixe ali colocado.

Alaor presenciou todo o ocorrido.
Passado o susto tratou de agir.
Tentar ajudar fazia todo sentido.
Faria o melhor que pudesse conseguir.

Parou o Scania à beira da lagoa.
Desengatou rapidamente o semirreboque.
Jazia inerte aquela gigantesca máquina que voa.
Passageiros saiam, alguns em estado de choque.

Das portas de emergência, escorregador.
Passageiros caiam dentro d’água fria.
A temperatura amena, nem frio, nem calor.
Sol a pino, marcava já ser meio-dia.

Alaor amarrou uma tira sintética no cavalo.
Pulou na lagoa e começou a nadar.
Amarrar no avião e até a margem reboca-lo.
Era isso que ele iria tentar.

Muitos passageiros na lagoa a flutuar.
Alaor viu a tripulação também sair.
Com vigor, até ele se pôs a nadar.
O piloto tinha no crachá escrito Altair.

Conversou com o comandante.
Que tinha intenção de rebocar o avião.
A aeronave poderia afundar em um instante.
Tinham que rapidamente tomar uma decisão.

Comandante Altair achou a ideia boa.
Levar a aeronave para local mais raso.
Não sabiam a profundidade da lagoa.
Perto da margem o retirariam se fosse o caso.

Quando Alaor se preparava para voltar.
Ir até seu Scania puxar a aeronave.
Sentiu delicada mão no seu ombro tocar.
Ouviu próximo dos ouvidos voz doce e grave.

Era Tânia, aquela aeromoça que conheceu.
A jovem reconheceu o rapaz no ato.
O que Alaor fazia ali, ela não entendeu.
Passava pelo local, coincidência de fato.

Enquanto as pessoas saiam pela margem.
Alaor chegou até seu Scania de alta potência.
Nessa hora nenhum passageiro pensou em bagagem.
Salvar a própria vida era agir com coerência.

Ter encontrado Tânia em inusitada situação.
Deixou Alaor feliz, mas espantado.
Convidou-a para ir com ele até seu caminhão.
Tinha toalha para enxugar seu corpo molhado.

Quando Tânia chegou à margem.
Alaor quase perdeu a fala.
Roupa colada no corpo, parecia uma miragem.
Tão linda visão, às estruturas dele, abala.

Chegando ao cavalo mecânico.
Alaor abriu a porta para ela entrar.
Ferveu em suas veias o sangue hispânico.
Deu-lhe uma toalha para se enxugar.

Na cama leito puxou a cortina.
Alaor ligou seu poderoso Scania.
O esforço fez estremecer a cabina.
Por ajudar não queria ufania.

O cavalo mecânico avançou lentamente.
A tira sintética retesou a ponto de arrebentar.
O avião deslizou pela água suavemente.
Parecia imensa baleia a boiar.

Foram salvos todos os passageiros.
Não houve nenhuma baixa na tripulação.
Para sair da aeronave foram ligeiros.
Mesmo na água, havia risco de explosão.

Alaor avisou o corpo de bombeiros.
Também polícia e serviços de suporte.
Apesar de não terem se ferido os passageiros.
Alguns tinham pequenos arranhões e cortes.

Veio até ali um ônibus fretado.
Para levar passageiros e tripulação.
Alaor chamou a jovem de lado.
Convidou-a para ir até a cidade de caminhão.

Ela aceitou e na cabine confortável.
Conversaram e marcaram de jantar.
Tânia percebeu que ele era homem confiável.
Quem sabe ambos não poderiam namorar.

Saíram e engataram um romance.
Regado a muito amor e total entrega.
Para estarem juntos, aproveitavam qualquer chance.
Viam mutuas qualidades, pois amor cega.

A rotina de ambos complicada.
O namoro foi substituído pela amizade.
Ela voando pelos céus ele voando pela estrada.
Se encontram quando bate uma saudade.

Entregam-se ao sexo, ao prazer carnal.
Alaor faz Tânia se sentir amada, ir ao Nirvana.
Romance de sem compromisso, para eles normal.
Compensam a longa ausência na cama.

Na cama leito de algum caminhão.
Ou na suíte de um motel qualquer.
Exercitam o amor e a paixão.
Para Alaor, Tânia era a mais linda mulher.

Autor: Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

One thought on “HISTÓRIA DA ESTRADA – O CARRETEIRO E A AEROMOÇA

  • robertosantista

    Uma história diferente entre um carreteiro e uma aeromoça. Um voando pelas estradas e ela voando pelos ares

Fechado para comentários.

%d