Roberto Dias Alvares‏Z-Colunas

VIAJANDO DE CAMINHÃO

A bordo de um caminhão
de uma marca qualquer.
Estou no controle da direção.
Ao meu lado a mais linda mulher.

Durante o dia trabalho
e viro a noite quando é preciso.
Reduzo, motor treme igual chocalho.
Andar com segurança priorizo.

Olhando pela janela
vejo passar a paisagem.
Neste poderoso cavalo estou na sela.
Domino o bruto com muita coragem.

Sentada no banco do carona
olho e às vezes nem acredito.
Mulher que de meu coração é dona.
Rosto de anjo, corpo escultural e bonito.

A bordo de meu caminhão,
enfrento chuva torrencial.
Escaldante sol de verão.
Para ela isso tudo é normal.

Quando a noite suavemente cai
estaciono o estradeiro em bom lugar.
Se arrumar para mim ela vai.
Passamos a madrugada a nos amar.

Quem precisa de outra motivação
tendo ao lado tão encantadora deusa.
Para qualquer lugar vou com o caminhão.
se junto a mim tu estiveres, Neuza.

No outro dia quando acordo
foi se esconder a brilhante lua.
Parto tendo ela a bordo.
A estrada, ao meu bruto cultua.

Cavalo mecânico imponente.
Aperto no acelerador é a senha.
Na estrada, ao chão voando rente
Nessa máquina eu chego a lenha.

Quando em qualquer lugar eu paro
e desço de tão bonito caminhão.
Admiração dos outros eu comparo
com a que sinto por minha paixão.

Ao volante, olho em frente
mas do meu lado tamanha beleza.
O meu caminhão é o mais potente.
Minha amada, a mais linda com certeza.

Não importa para onde eu vá
se tudo que preciso vai comigo.
Cavalo mais valoroso não há.
Com ela do meu lado, feliz sigo.

Meu bruto é velho e também novo,
mas na lida faz o que é preciso.
Pela minha vida a Deus eu louvo.
Pelo asfalto não rodo, deslizo.

É cavalo mecânico antigo
mas mecânica e tecnologia de ponta.
Em bom ritmo de velocidade sigo.
De vez em quando a gente apronta.

Tem caminhão zero e novo
que ao ver o meu acha que humilha.
Penso: “Mas não aprende esse povo”.
O sol para todos brilha.

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Mas quando meu bem me sorri
não resisto e no acostamento paro.
Ao amor nos entregamos ali.
Seja noite, madrugada ou dia claro.

Pela janela do caminhão
O mundo passando eu vejo.
Da vida real parece televisão.
Continuar viajando é o que desejo.

A janela é moldura de um quadro
onde a paisagem não fica inerte.
Sigo no cavalo mecânico seis por quatro.
Na estrada não há caminhão que me aperte.

Quando na traseira de outro eu colo
dou seta e que vou passar já aviso.
Na velocidade às vezes extrapolo.
Faço cantar os pneus no asfáltico piso.

Meu caminhão parece uma nave
e a bordo, da tecnologia usufruo.
Trabalhar feliz, do sucesso é a chave.
Em meu cruzador, parece até que flutuo.

Ao volante da minha carreta
às vezes dirijo com arrojo.
Antes da ultrapassagem ligo a seta.
Durante, olho de lado com nojo.

Às vezes paramos no restaurante,
outras vezes preparamos nosso rango.
Tomamos suco natural e não refrigerante.
Gostamos de mandioca com frango.

Churrasqueira portátil a gás
preparo carne no Gengis Kan.
Eu e ela sentamos e comemos em paz.
Dormimos ou nos amamos até de manhã.

Essa é a vida de carreteiro
e dela eu não enjoo.
Meu bruto tal qual avião cargueiro
pela estrada faz rasante voo.

Quando me avisam que tem polícia
desvio entrando em algum contorno.
Na estrada tem de se ter malícia.
Ando direito e não ofereço suborno.

Ao volante não fiz estágio
e na condução tenho doutorado.
Coisa que me irrita é o caro pedágio
ou por policial corrupto ser achacado.

Ando sobre muitas rodas
que rodam neste mundo que gira.
Nas rodas de viola ouço as modas.
Sou da cidade mas a alma é de caipira.

Pela estrada em cada reta e cada curva
dirijo com o respeito que o trecho exige.
O asfalto já deixou muita mulher viúva.
Cruz à beira da estrada , alerta pra quem dirige.

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Conduzo meu bruto no capricho
levando-o na ponta dos dedos.
A morte espreita como selvagem bicho.
De qualquer viajante, o maior dos medos.

Na descida da serra reduzo.
Na subida, acelerador cola no assoalho.
De meu bruto carregado não abuso.
Afinal é minha ferramenta de trabalho.

Andando por estrada boa ou ruim,
passando atoleiros e correntezas.
Vida de caminhoneiro é dura assim,
mas com Deus, venço as asperezas.

Com Ele, cada luta diária venço.
A meu lado a mais linda mulher.
Olho para ela e motivado penso
que por ela encaro tudo que vier.

Em meu caminhão aclives sei que venço
chegando ao alto de qualquer cume.
Quando alguma mulher me acena um lenço,
minha amada mostra o seu ciúme.

A noite toda dirigindo eu viro
sem dar um único bocejo.
Mantenho rotações dentro do giro.
Na arte de dirigir tenho traquejo.

Os faróis projetam intenso brilho.
O motor em suave murmúrio.
Buzina lança no ar um estribilho,
espantando quem ouve com seu barulho.

Logo cedo, o céu pintado de vários tons
e de cores, mistura de todas as matizes.
Meu estradeiro é um bruto dos bons.
Tração nos dois eixos motrizes.

Difíceis atoleiros eu cruzo.
graças à força do cavalo trucado.
Alivio o motor, a marcha reduzo.
Sigo em frente bem carregado.

O meu caminho eu mesmo faço
e as distâncias eu encurto.
Na estrada, é cada aventura que passo.
Escapei de assalto, homicídio e furto.

Quando eu e ela voltamos para casa
nos sentimos estranhos no ninho.
Para nós não há nada que mais nos compraza
do que voltar e seguir nosso caminho.

Nossa verdadeira casa é a cabine
onde a cada dia estamos em um lugar.
À noite vivemos momento sublime
Nossos corpos entregues a arte de amar.

Roberto Dias Alvares

Roberto Dias Alvares

Casado com uma mulher linda. Pai de filha abençoada. Santista ainda. Escritor e poeta da estrada.

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